domingo, 10 de junho de 2007

A Destruição do Passado 2


A ubiqüidade do presente permanente que não se transforma em passado, mas é substituído pelo novo presente gerado, empurra a humanidade para a perda da memória coletiva. Todos os fatos do “ontem” perdem sua conexão com o “hoje”, por mais próximo que eles estejam, pois este vínculo foi rompido. O “ontem” não pode servir para explicar o “hoje”, porque este último está constituído das construções de uma realidade que acaba de nascer, cuja informações e linguagens só se encaixam no “agora”.

No romance de Carlos Fuentes, a personagem Laura Diaz lia muito antropologia e história antiga do México para compreender o presente que fotografava. Na letra de Milton Nascimento e Fernando Brant, se muito vale o já feito / mas vale o que será / e o que foi feito / é preciso conhecer / para melhor prosseguir. Tanto a primeira quanto a segunda citação (em certa medida, até mais a segunda que a primeira), ficaram entrincheiradas na modernidade, pois no momento em que a velocidade destruiu a distância e, conseqüentemente, o vínculo com o passado próximo ou distante, ter referenciais no pretérito se tornou algo como dirimir-se na descontinuidade do “agora”.

Essa descontinuidade também é produto evidente da quantidade de informações. Se a distância já não existe de fato, nada mais separa ou retarda o ir e vir de informações. Este intenso fluxo que percorre o mundo não dá espaço para a reflexão, arremedando a lógica do mercado – também este desprovido dos limites da distância, mas envolvendo uma outra problemática – do mundo contemporâneo. A informação, que é imediata, agora é, consequëntemente descartável, será “destruída” em questão de segundos. O “agora” é a própria informação que se apresenta e evidencia, as referências do agora são as informações, as imagens e as repercussões do atual, do hoje exatamente, e deste modo, é mesmo viável que o “antes” seja empurrado para o esquecimento.

Se esta nova lógica rompe – ou ao menos altera de maneira bastante preocupante – as relações humanas, ou a reduz a muito pouco, se o passado se resume a mera e vaga lembrança do que um dia pode ter sido algo, mas que de qualquer forma não serve para explicar o atual, se a localidade é a periferia dos não-extraterritoriais, então é muito viva a inferência de que Fredric Jameson tenha razão: o pós-modernismo é o que se tem quando o processo de modernização está completo e a natureza se foi para sempre.

Ronilso Pacheco

A Destruição do Passado 1

A popularização da internet obsoletizou, quase que totalmente, as correspondências comuns. Não só. Há um triunfo de um conflito aí. As correspondências respeitavam (estavam evidentemente submissas) as distâncias. Precisavam, como ainda precisam, viajar no tempo e no espaço para alcançar e “aproximar” pessoas. A internet, através do e-mail, não só rompeu este processo, como também pode impor ao homem o “tempo” da máquina. Na verdade, a internet inverteu a lógica do tempo do homem – porque sua massificação a tornou extremamente comum – e jogou a todos dentro de um presente imediato e permanente. Ao que Marc Bloch teria identificado como a categoria da duração, a comunicação pós-moderna impôs a descontinuidade, o que seria um presente que não cessa diante da sucessão de fatos que se apresentam e estão simultâneamente disponíveis, sem que suas relações entre si sejam necessáriamente levadas em conta.

Para Eric Hobsbawm, quase todos os jovens de hoje crescem numa espécie de presente contínuo, sem qualquer relação orgânica com o passado público da época em que vivem. O que o historiador inglês chama de a destruição do passado – ou melhor, dos mecanismos sociais que vinculam nossa experiência pessoal à das gerações passadas – irrompe agressivamente à influenciar as relações humanas, os homens com os meios, os meios dentro das estruturas e a interação de tudo isso.

Todos os dias, milhões de pessoas pelo mundo se dirigem para os seus respectivos trabalhos, não antes de adquirirem seus jornais diários, que darão a elas as informações julgadas interessantes sobre suas respectivas localidades, países e o mundo. Mas estas mesmas pessoas não se encontram mais no tempo do “agora” das informações. Uma outra parcela de cidadão do globo estarão, estes sim, no instante da notícia ao acessarem os sites dos mesmos jornais que aqueles. Neste caso, o tempo que separa a compra do jornal e a chegada ao trabalho dos primeiros, é o tempo que os colocarão inevitavelmente no atraso com relação aos segundos. Para os primeiros, o gerador da informação e da notícia – o objeto noticiado – permaneceu estático, enquanto viajava no tempo/espaço para alcançar seus respectivos receptores. Para os segundos, não existindo a distância e o espaço, o gerador da informação e da notícia permanecem vivos, interagem com seus receptores num ir e vir de reações.
Ronils Pacheco

segunda-feira, 21 de maio de 2007

FALSOS HERÓIS (3)

Deus ou os morcegos da caixa de Pandora


Para que ninguém se perca, esclareço rapidamente sobre a lenda de Pandora, da mitologia grega. Uma forma de Zeus impedir que o homem fosse como os deuses, porque Prometeu, havia traído o olimpo, dando ao homem a capacidade de conhecer o fogo, o grande artefato que separava os Deuses dos homens, em conhecimento. Pandora vem a terra para trazer uma armadilha de Zeus, trás uma caixa contendo todas as desgraças possíveis. Pandora encanta Epimeteu, irmão de Prometeu, que recebe a caixa como sendo um presente. Todas aquelas desgraças saltam da caixa. No entanto, havia ali algo que poderia reverter todo aquele quadro, mas Zeus ordena que Pandora feche a caixa, ela o faz rapidamente, sem saber que a única coisa que restou na caixa, foi a solução de grande parte daquelas mazelas, a Esperança.

É talvez a última coisa que tenho a dizer sobre os Heróis, verdadeiros ou falsos, seja lá como cada um pode crer. Porque ninguém é capaz de canalizar, centralizar, representar tanto as esperanças, do que os Heróis. Porque eles sempre aparecem no momento certo, em qualquer lugar, sobre quaisquer circunstâncias. São sempre geniais, salvadores, redentores. Mas o que fazer quando os Heróis são desconstruídos pela força da realidade vigente, quando se tornam, enfim, incapazes de corresponder as esperanças? Mais do que isso, o que fazer quando a esperança parece ter partido, e, se a caixa de Pandora estivesse entre nós, não mais acharíamos o precioso artefato, mas sombras e morcegos que sobrevoam sobre nós, desafiam nossas atitudes, nossa capacidade de reação, nossa disposição de se expor?

Alguém diz no ditado popular que a “esperança é a última que morre”. O que para mim é muito difícil de entender, porque se a esperança é a última a morrer, é apenas uma questão de tempo, porque, ainda que seja a última, ela morrerá. Então ela morre ou não morre? Heróis inspiram esperanças, mas o que fazer quando os heróis finalmente deixam de existir? Sim, “finalmente”, porque enquanto eles permanecem colorindo a nossa cabeça, a gente parece que não cresce para trilhar nossos próprios caminhos mediante a nossa capacidade real. Acho que Heróis são uma praga, e acho que nós não precisamos deles, porque eles não servem para nada além desse mundo seguro da infância. Eles não tem nada a dizer para as dificuldades e desafios do nosso mundo desencantado.

No fundo, os Heróis são tão frágeis como quanto nossa imaginação, eles não respondem nada. Eles ocupam as nossas aspirações, mas eles não podem ser como Deus. Eles canalizam as nossas esperanças, mas eles não são como Deus. Eles desenvolvem grandes poderes (os reais e os imaginários), mas eles não são como Deus. Então eu tenho a impressão que tudo que nos resta, como desde o princípio tem sido, é entender que este mundo desencantado está, dos heróis, das fábulas e dos contos maravilhosos, os morcegos invadiram a caixa de Pandora, mas a esperança está, ainda, refugiada em Deus. E acho até que ela, a esperança, não pode mesmo morrer, a menos que conseguissem matar Aquele que a mantém viva. Heróis são uma praga.

Ronilso Pacheco... enfim...

quinta-feira, 3 de maio de 2007

FALSOS HERÓIS (2)

Entre Deus e os "Apanhadores de Sonhos"


Imagino que seja uma agressão para qualquer criança, ter de aceitar que os heróis são irreais, que eles não nos acompanham na vida, quando esta abandona a fase infantil e avança para a adulta, passando pela adolescência e a juventude. É complexo demais para uma criança entender que vamos envelhecer sem eles, mas é evidente que vamos.

A imagem do herói as vezes é mais forte do que a convicção adulta de que eles simplesmente...passam. E por isso, talvez, ele seja tão naturalmente substituído, “reconstruído” para a linguagem adulta, do homem e seu “salvador”, o libertador da aldeia global, digo, da arena global, dos nossos dias sofridos, das nossas injustiças diárias, das nossas guerras iminentes, dos nossos desafios agigantados, e tudo o mais. Então eles são devidamente encarnados, e as imagens de heróis devidamente projetadas. Heróis que são incapazes de voar, a menos que sejam na força super sônica de seus grandes aviões, intangíveis; que não podem lançar um único raio sequer, mas podem destruir uma cidade com o seu poder de decisão, a sua ordem expressa de que “o inimigo deve ser dizimado” e se entenderem que um governo ou um povo é uma ameaça; que não possuem nenhuma palavra mágica, de encantamento, mas tem as palavras certas para realizarem suas estratégias de “intervenção”, como Restore Democracy, Operação Ajax, Guerra ao Terror, Novo Socialismo, Allied Force, El Dorado Canyon ou Operação Condor; que definitivamente não possuem super força, mas são, indiscutivelmente os homens e mulheres mais poderosos do planeta.

E assim é que, os heróis, estes heróis, permanecem sendo o refúgio de nossas expectativas e esperanças, todas as esperanças dos sonhos que temos, de sobrevivermos todos os dias, sem sabermos por quanto tempo esta terra ainda vai durar. Porque nada mais assustador do que quando heróis lutam entre si, entram em confronto, e os “simples mortais” só podem assistir, e se protegerem da maneira que for possível. Você nunca ficou pensando o que acontecia com a cidade e com as pessoas que acabavam morrendo ou feridas nas batalhas entre heróis e vilões super poderosos? O que acontecia depois que os prédios explodiam, caíam em ruínas, os carros viravam, as pontes rompiam e crateras eram abertas no chão? Provavelmente não, porque o importante ali era o confronto. Mas no nosso mundo real (este mesmo, das nossas injustiças diárias, das nossas guerras iminentes, dos nossos desafios agigantados e tudo o mais), isso faz toda a diferença. Quando nossos “heróis” dialogam, ficamos tensos, o mundo em expectativa. Quando se confrontam, contamos as vítimas, os “simples mortais” que não tiveram escolha, a não ser sofrerem as conseqüências de uma disputa de poder, entre os poderosos. E é assim que eles são os ícones de um estranho messianismo secular. O mundo inteiro, a espera do herói “libertador”.

Como crer num mundo em que falsos heróis conseguem ter um apelo mais forte do que a possibilidade de se voltar para Deus? Em que o “messianismo secular” é mais assimilado do que necessidade de esperar em Deus? E em que Ele, Deus, é acusado de ser mais fantástico, ausente e irreal?

Acho que as respostas partiram junto com a nossa fé.
Ronilso Pacheco... frágil, cristão e desencantado

sábado, 28 de abril de 2007

FALSOS HERÓIS (1)

A quem recorreríamos se Deus simplesmente nos deixasse?

Ilustração de Alex Ross para Liga da Justiça
Esta é uma pergunta tão difícil de formular quanto de de responder. Primeiro porque a proposta que a pergunta faz, ao exigir uma resposta, é absurda. Se Deus é o limite, é o tudo e o todo, se é mesmo por onde todas as coisas vieram a existir, subsistem ou vão acabar, não é muito relevante pensar em quem poderíamos recorrer, porque se ele realmente partisse, nada restaria para se recorrer, a não ser, é claro, uns aos outros, enquanto desse. Segundo, porque minha consciência cristã quase trava toda a minha capacidade de raciocínio, ao pensar na possibilidade de "Deus partir". Deus parte pra onde? Se partisse, onde é que Ele ficaria? Então, pensar na resposta pode ser um desafio menor do que chegar ao ponto de formular esta pergunta.
Também há uma outra questão relevante. Muitas pessoas acreditam que Deus já as deixou. Ele não está mais presente, se é que em algum momento realmente esteve. Nunca recorreram a Deus, segundo elas, porque ele nunca foi "real". Então, não podem pensar na possibilidade de viverem um dia sem a "intervenção" de Deus em alguma situação, simplesmente porque ele nunca esteve, o mundo sempre sguiu sozinho, os homens no comando, ditando as regras, fazendo o jogo, decidindo quem joga e como se deve jogar, incluindo e excluindo quem quiser, enfim, o mundo é o mundo e tudo e todos que ele envolve. Portanto, esta pergunta soa até ridícula, "o que nos restaria?".
Mas contudo, vale a pena o desafio desta especulação. A imaginação da humanidade é recheada de super heróis, eles são o nosso grande subterfúgio, a nossa tergiversação coletiva. Muitas vezes nos acompanham desde a infância, e ainda algumas vezes canalizam as expectativas de um mundo mais seguro. Pois bem, se Deus nos deixasse, super heróis poderiam nos "socorrer". Eles poderiam estar presentes, todos os dias, podiam fazer parte do nosso cotidiano, voando pra lá e pra cá, escalando paredes, saltando de um prédio para o outro, protegendo pessoas inocentes nas guerras urbanas do tráfico, protegendo civis nas guerras militares do oriente médio, salvando vidas nos escombros dos alvos dos ataques terroristas, impedindo mísseis de atingirem escolas, lançando raios nas mãos de um maluco que entrasse armado numa universidade disposto a metralhar todo mundo... os heróis.
Num mundo sem Deus, eles fariam muito sucesso, seriam a grande alternativa, caso chegássemos a conclusão de que não poderíamos fazer nada, seríamos impotentes, como hoje somos, diante das adversidades que se agigantam sobre nós, e nós, com a nossa humanidade, somos absolutamente impotentes. Mas o que dói é que eles não são reais, não se aplicam aqui neste mundo da dura realidade. Então, onde Deus é ausente, faz-se necessários os falsos heróis, diversos, ineficazes, mas aliviadores de consciências temerosas e inseguras num mundo de mar tenebroso. Mas, é bom que se diga, nem os heróis vivem para sempre. Má notícia.
Ronilso Pacheco... cristão, humano e frágil...

terça-feira, 24 de abril de 2007

???...O Deus da Curiosidade...????

“Porque agora vemos por espelho, em enigma, mas então, veremos face a face; agora conheço em parte, mas então, conhecerei como também sou conhecido.” É assim o versículo 12 do capítulo 13 do livro de 1Coríntios. Estamos vendo por espelho, como um enigma, aliás, em se tratando de Deus, como um grande enigma, daqueles que quebram a nossa cabeça, juntando “as peças”.

E é assim que minha cabeça não para de viajar enquanto penso, nesse Deus “lúdico” que fomentou em nós a curiosidade, ou a possibilidade de desenvolvermos por Ele, uma imensa curiosidade de saber cada vez mais.

Lembro-me de quando lia os romances da Agatha Christie, e acompanhava atento, cheio de atenção, cada página das aventuras do Hercule Poirot. Ou, algumas vezes, o Sherlock Holmes de Conan Doyle. Acontece que naquele momento, eu via a trama como um enigma, queria chegar desesperadamente ao fim dos livros, porque queria saber se estava indo bem, se minha intuição estava certa, queria descobrir afinal de contas o que aconteceu. Tudo podia esperar, principalmente o meu dever de casa. Era assim, pois enquanto estava nas primeiras páginas, ou mesmo no meio do livro, eu só conhecia em parte. Então isso me instigava.

Agora me volto para Deus, novamente. Deus que fomentou em nós esta “curiosidade”. Não me preocupa agora saber como curiosidade está descrita no dicionário, eu vou definir isso como “o instinto do querer saber”. Me parece muito bom. Então Deus nos proporcionou o instinto do querer saber, mas acho que nós proporcionamos a nós mesmos a “limitação e a mediocridade do nosso instinto do querer saber”, porque parece que cada vez mais sabemos menos de Deus e mais sobre tudo. Acho que “não soubemos brincar”.

O que queremos conhecer por completo é tudo o que Deus pode fazer, como ele pode fazer, mediante o que ele pode fazer, de que maneira podemos fazer para reduzir o tempo para que ele faça (sim, porque as vezes Ele demoooora), enfim. Queremos desvendar o enigma do “Deus aplicativo” e nos demonstramos desinteressados no conhecimento do “Deus relacional”.

Realmente é uma pena. “Buscai ao Senhor enquanto se pode achar”. Está aí um bom momento dos filhos terem um momento de lazer, brincando de achar o pai pela casa.

Ronilso Pacheco


OPRESSOCIOECONOMICÍDIO

“Mas os primeiros governates que foram antes de mim, oprimiram o povo, tomaram-lhe pão e vinho. Porém eu assim não fiz, por causa do temor de Deus”
Neemias 5:15


É mesmo um mundo impossível este nosso
Muitas forças permanecem sobre as nossas cabeças
E seremos até o fim, os súditos do castelo
Foi-se o Reich, permanece o totalitarismo
E é mais do que a Hannah Arendt poderia imaginar
A aldeia global agora é uma vila
E a liberdade do indivíduo bruscamente está tolhida
E a opressão cai esmagadora sobre o povo
Que permanece cego na postura cética
De esperar da esfera do poder a redenção social
Messianismo secular, os tolos somos nós

Os súditos do castelo estão lá fora
Nas ruas de La Paz, Quito e Soweto
Nas avenidas de Jacarta, Nova Delhi e Manágua
Nas favelas de São Paulo e Santiago
Mas também em Praga, Ancara e Bucarest
A exploração do homem sobre o homem
Certamente não estava nos planos de Deus
Há milhões nas ruas, há meia dúzia nos palácios
Está entre o equilíbrio e a cólera
A ditadura do pensamento único
E a democracia (mímica) do circo do poder
Messianismo secular, os tolos somos nós

Vem o fim, o fim vem
O mundo está totalmente fora do eixo
E os donos do mundo negam o seu fim
Um país é um negócio, um povo uma mercadoria
É a nova ordem, novo império, novo feudalismo
E a opressão cai esmagadora sobre o povo
O totalitarismo econômico, é mais forte que o bélico
E de punhos cerrados, o povo não clama por Deus
È o messianismo secular, e os tolos somos nós

Ronilso Pacheco

sábado, 14 de abril de 2007

Os Dias como um Martelo...(2): das inerrogações como pedras na estrada

Nunca uma semana impôs tanto sobre mim o desafio tão grande, nem mesmo exigiu de mim uma maturidade tão consolidada. Nunca fui tão tirado, quase que forçosamente, da dimensão limitada da nossa visão natural e obrigado, querendo ou não, a alcançar a dimensão da eternidade, a qual eu realmente pertenço. Nunca me vi tão obrigado a estar pronto para se posicionar, assimilar, e fazer com que minha assimilação ajudasse outros, próximos ou distantes, a discernirem e assimilarem a mesma situação.
Ainda tentando entender e assimilar a perda dos três amigos e irmãos do domingo de páscoa, todos nós tivemos de tomar fôlego e receber a notícia do falecimento do pastor FÁBIO RAMOS DE CARVALHO, nosso amigo, irmão mais velho para alguns, pai para outros, referencial para quase todos, "bispo", "cacatua", figura, etc. Pastor fundador da comunidade cristã Caverna de Adulão, em Belo Horizonte, Fabinho faleceu em Havana, Cuba, vítima de um infarto fulminante, na quinta-feira 12 de Abril.
Mas ao contrário do que possa parecer, não quero "narrar" a vida do Fábio, nem seus feitos (ele não gostaria disso). Mas, se o espaço é pouco, prefiro expor algumas questões que essa perda (?) expõe, e impõe sobre nós (isto sim, pensar, refletir, propor, taí uma coisa que ele gostaria de ver).
Mais uma vez, nos dividimos entre a dor da perda e a alegria de saber para onde ele partiu. Mas afinal de contas, por que estes sentimentos se confundem tanto nessa hora? Por que é preciso um esforço tão grande para entender aquilo que para nós deveria ser tão facilmente compreendido? Por que nossa limitação está tão mais próxima do que insistimos em acreditar que está?
Já ouvi que parte dessa tristeza, além é claro, de saber a falta que nossos irmão farão entre nós, é que nós não fomos feito para a morte... nossa essência é a eternidade. Por isso, a morte nos confronta... seja como for. Cada um de nós gostaria de desfrutar de uma subida com o Senhor, baseada em 1Tessalonicenses 4:16-18. Mas a morte parece a "usurpação" deste "privilégio". Também já me falaram que momentos como este, com esta intensidade, é o único momento em que nós somos "sacudidos" na nossa acomodação nesta terra, na construção de uma vida planejada inconscientemente para ficar aqui. Mas será possível que perderíamos tanto a dimensão das coisas que não se vêem, e são eternas, e nos prendemos nas limitações da realidade naturalmente visível, e são passageiras? Quase todos disseram que Deus está querendo dizer algo... mas o que? O que está sendo dito não está claro, ou a clareza e a simplicidade de como está sendo dito ainda está demasiadamente além do que seria próprio a nossa compreensão?
Nós perdemos um soldado, um dos soldados que estavam a frente, um dos soldados que chegaram a frente de batalha primeiro, antes de muitos de nós. É difícil agora imaginar uma outra forma de tudo isso, ou seja, esse algo que Deus tem a dizer, ser dito de maneira a alcançar tantos irmãos, ministérios, líderes, pessoas que caminham juntas, na visão e nos desafios. Deus não quis dar um toque... quis dar um abalo.
Mas afinal de contas, o que vamos fazer diante de tudo isso? O que todo esse abalo vai gerar em nós, na nossa trajetória restante, no caminho dos caminhantes? Por quanto tempo ainda sentiremos a fissura entre a realidade limitada de um mundo em que não cabemos mais e a realidade infinita de um reino que viemos revelar? Um dia, em um outro texto, espero compartilhar das respostas... no momento... só consigo compartilhar das perguntas. E é assim que cada interrogação que se apresenta, tem a mesma semântica das pedras na estrada, as pedras no caminho dos caminhantes. E, ainda como as pedras, alguns chutam, alguns tropeçam, e alguns simplesmente passam por elas, elas são ultrapassadas, elas ficam para trás.
Sentiremos saudades, eu sinto neste momento. As lágrimas do meu coração ainda não secaram totalmente. Mas eu acredito que posso ser um daqueles que seguirão em frente. Ultrapassarei as "pedras interrogativas", e findarei a fissura.
Obrigado Fábio. Aguarde que chegaremos, pois ainda temos algumas coisas para resolver aqui, cooperando com Deus. E fico feliz, de você ter combatido o bom combate.
Ronilso Pacheco... e o coração ainda chora...

terça-feira, 10 de abril de 2007

Os Dias como um Martelo...

Confesso que não gosto de escrever textos muito longos neste blog. Penso em mim mesmo, quando visito blogs, de amigos ou não, que acho interessantes, mas desisto de chegar até o fim porque os textos são gigantes, e quando tem fundo preto e letra branca então, pior. Mas hoje, sinceramente, não estou preocupado com o tamanho deste texto, até onde ele vai, e o quanto vai ser dito. Quero dizer o que quero dizer, sem medidas.
Tivemos um fim de semana muito, muito difícil. E tivemos, aqui, não diz respeito a mim e minha esposa tão somente, mas uma enorme quantidade de pessoas, irmãos e irmãs, amigos em todas as partes, extensões humanas dessa família de Deus aqui nesta terra. A notícia de um acidente trágico, recebida as 11:00 do domingo por telefone, era só o início de um dia que traria tanta dor, tanta dificuldade de assimilar sentimentos, equilibrá-los entre a tristeza da perda e a alegria de saber para onde (e principalmente para quem) foi a perda.
Num só dia, numa só manhã, perdemos a "tia" Patrícia, seu futuro esposo (acreditávamos que finalmente seria esse) Hebert Cortez, o "Beberico", e o contagiante Jesus, pastor, diga-se de passagem, e dono de um sorriso sem igual. Até o exato momento em que escrevo, o camarada Johab, servo, guerreiro, amor de pessoa e de pai, ainda está em estado grave. Num só dia, numa só manhã. Não imaginava que um único dia podesse ter tanta informação assim. Foi um domingo difícil, um dos mais doloridos da minha vida. Foi uma segunda-feira difícil. Uma das mais difíceis da minha vida. Os dois primeiros dias em que fomos dormir sem a presença de nossos irmãos compartilhadas nessa terra. E a vida segue. E Deus ainda é Deus.
Mas quando penso tudo isso, penso de onde eles vieram. Vieram de um momento e oportunidade de compartilhar da visão e das verdades de Deus. Tocaram, cantaram, semearam. Naquela noite de sexta e de sábado, me conforta o fato de saber que alguém, um que seja, ouviu a palavra do Senhor, recebeu um abraço, um sorriso de um dos quatro, e naquele momento, conheceu Deus. Alguém que não foi alcançado pela idéia, mas pelo amor, o que eles tinha demais. Agora, lembro para onde foram, tiveram o privilégio de ir, antes de nós. Danados, chegaram primeiro, era onde no fundo, todos nós gostaríamos de estar. Então escolho isso, e não deixo esta perspectiva, de onde eles vieram e para onde foram, ser ofuscada por um momento, um quadro, uma circunstância. E se me perguntassem qual o fruto deste acidente, trágico como foi, eu levantaria o dedo, diria "eu sou fruto", pois amadureci uns dez anos a frente, na caminhada com o Senhor. Entendendo o seu amor e propósito.
Então é isso. A vida segue. E Deus ainda é Deus.
Mas não vamos "fechar o mundo em nós". No outro carro envolvido havia uma outra família. Outras perdas, outra história de dor, que não conhecemos a fundo. Então eu os incluo no meu luto, na minha lembrança. Não sei nada deles, nada sobre eles, nome, idade, o que faziam, religião, história de vida, o sorriso, o relacionamento, nada. Portanto, não sei de onde vinham, e logo, não sei para onde foram os que partiram. Então eu os incluo no meu luto. E a vida segue.
E, é bom que se diga, Deus ainda é Deus!
Ronilso Pacheco... e o coração chorando...

vozesdaamérica.vozesdaamérica.vozesdaamérica (2)

A água perfura a pedra,
o vento dispersa a água,
a pedra detém ao vento.
Água, vento, pedra.

O vento esculpe a pedra,
a pedra é taça da água,
a água escapa e é vento.
Pedra, vento, água.

O vento em seus giros canta,
a água ao andar murmura,
a pedra imóvel se cala.
Vento, água, pedra.

Um é outro e é nenhum:
entre seus nomes vazios
passam e se desvanecem.
Água, pedra, vento.

Octávio Paz

domingo, 11 de março de 2007

O Conto de Sara

*Ilustração do livro de Hans Crhistian Andersen

Era a mais perfeita manhã, e era indiscutivelmente a brisa mais suave que Sara havia sentido, porque era um costume seu comparar a brisa que sentia correr hoje, com a que sentira correr ontem. Um hábito bastante incomum, claro, mas era assim que ela se identificava mesmo, incomum.

Ergueu a cabeça, sorriu, abriu os braços, deixou que a imaginação desenhasse uma imagem, uma cena, um lugar. Sabe aquelas cenas em que a personagem para encima de uma montanha, na beirinha, um vento sopra, move seus cabelos, ela abre os braços, sorri, e a câmera dá aquele trezentos e sessenta graus em torno dela, para filmar toda a paisagem? Foi nisso que ela pensou.

Mas o cinema ainda confronta limites que a imaginação pode livremente ultrapassar. Não é uma montanha, é um bosque, e nele não se pisa em gramas, é, com muito cuidado, em girassóis, grandes, gigantescos, como folhas de... alface. Então era isso, um tapete de girassóis. Tantas borboletas, que se fosse noite, a quantidade de estrelas no céu certamente perderiam. O céu, aliás, este era tão azul que parecia ser possível toca-lo, porque imaginava que nada tão azul poderia estar tão distante. Mas estava, é claro, porque afinal de contas céu é céu.

Penso que queria correr, correr, correr... passando pelas árvores. Não digo entre as árvores, estou dizendo passar por elas. É que todas elas eram abertas como um túnel, sim, formavam um túnel literalmente quando estavam sobrepostas uma bem atrás da outra. Penso que por isso Sara não passou.

Mas a voz chamou alto o seu nome. Tudo acaba como um desencanto. Tudo que fora construído com tanto detalhe, acabara como um desencanto. Sara abre seus olhos, apenas por abrir, é claro. Quando o braço de sua companhia cruza com o seu, ela volta a caminhar, e ainda sorri. E eu ficava pensando porque Sara não lamentava a visão que nunca teve, imaginando mesmo que a resposta fosse a oportunidade que perderia de ver como apenas ela, de maneira ricamente particular, poderia ver.

Ronilso Pacheco

O Tombo da Montanha sem Cor

São os rumos que temo
A trajetória estranha da humanidade
No instante em que a terra poderia até parar
Se até ontem não parou
Hoje poderia
Ou amanhã pararia

Toda trajetória é história
E conto com pressa as alternativas que já foram
E calculo com receio as alternativas que restam
Que até ontem restavam
Que hoje ainda resta
Mas amanhã não restaria

Nós seguimos vacilantes
Como um tombo da montanha sem cor
Como as pedras que rolam num eterno avançar
Que até ontem avançava
Que hoje do avanço ainda resta
Mas amanhã pode parar

sexta-feira, 2 de março de 2007

Eles me disseram...

"Weder den vergongenen anheinmfallen noch den zukünftigen. Es kommt darauf ein ganz gegenwartig zu sein"
"Não almejar nem os que passaram nem os que virão. Importa ser de seu próprio tempo"
Karl jaspers
"A corrente subterrânea da história ocidental veio a luz e usurpou a dignidade de nossa tradição. Essa é a realidade em que vivemos. E é por isso que todos os esforços de escapar do horror do presente, refugiando-se na nostalgia por um passado ainda eventualmente intacto ou no antecipado alívio de um futuro melhor, são vãos."
Hannah Arendt

Obrigado, Grande Peixe!!!

Um dos filmes da minha semana de descanso já antes da semana do carnaval foi "Peixe Grande", de Tim Burton. Nunca levei Burton muito a sério, embora goste de muitos de seus filmes. É um filme que deveria estar na minha lista ao lado, mas seria pouco. Talvez nem tanto pelo que o filme "tecnicamente" pode apresentar, na verdade isso tá contando muito pouco aqui. Mas sim pelo que ele proporcionou a mim e minha esposa, alcançar com sua narrativa.
A história de Edward Bloom e seus contos maravilhosos, sua riqueza de criatividade, para tornar tudo interessante para o seu filho, que mesmo assim cresce e se torna um burocrático, homem tolhido da liberdade imaginativa que deveria ter herdado do pai.
Mas ao resolver investigar cada história dita pelo velho Bloom, o agora homem casado Will, descobre que seu pai não mentiu em momento algum, mas "pintou" e deu "sabor" a tudo que dizia, e construiu uma vida brilhante, não só de grandes histórias, mas de granes amigos, por sua simplicidade, companheirismo, carisma... e fidelidade.
E foi assim que quando terminamos de assistir a primeira vez (porque já vimos umas três ou quatro até agora) eu estava satisfeito com o que vi e minha esposa chorava. A diferença entre eu e ela? Errou quem apostou na velha diferença da sensibilidade homem-mulher. No fim, eu havia visto um filme carismático, que brinca com a imaginação como eu gosto de brincar. E ela, vira um filme que a fez lembrar o tempo todo de seu relacionamento com Deus. das vezes em que ela precisa escolher crer, naquilo que no fundo do seu coração, na medida em que ela amadureceu como pessoa culta e informada, perdeu a "possibilidade" de ser.
Tantas passagens na Bíblia, tantas histórias impossíveis de serem provadas, tantas narrativas "desenhadas" como um conto infantil, em que a frase "Deus pode tudo" entra não como uma convicção, mas como uma pedra gigantesca para dizer "não vamos ficar pensando nisso". E ela se viu como o homem Will, despido dessa capacidade imaginativa. lembramos que as vezes, a frase "Deus pode tudo" pode ser entendida como "Deus é genial, criativo, inovador".
Então, o seu choro, foi quase como um perdido de perdão. Como dizendo ao Senhor que um dia, o veremos, e conheceremos suas histórias maravilhosas, bem de perto. Compreenderemos todas elas, veremos aquelas pessoas especiais, de aventuras memoráveis. E enquanto isso, hoje, podemos ser menos "armados" para a riqueza imaginativa contida em nós. Não é um balaão que voa sem controle, é uma herança.
Ronilso Pacheco

O Tamnho das Nossas Possibilidades

Dias difíceis este em que as discussões giram em torno da brutalidade dos criminosos das cidades, que, cada vez mais, tornam seus crimes mais parecidos com as cenas chocantes dos filmes de serial killer que vemos com atenção. Ou pior, quando reproduzem métodos que só ouvimos falar ou vimos vagamente nos telejornais, tendo sido usados pelos criminosos de guerra do oriente médio ou dos “rebeldes selvagens tribais” do continente africano.
Mas agora parece tudo tão igual. Em tempos de globalização acelerada, a “globalização da violência” ou dos seus métodos parece ser uma conseqüência demasiadamente incômoda, além de é claro, assustadora.
Dias difíceis este em que mais uma vez, se recusando a compreender a totalidade da situação que nos envolve, a sociedade prefere simplificar e diminuir a visão, debatendo sobre diminuição de maioridade penal. É o preço que se paga quando se vive em função de fórmulas. Quando elas perdem a capacidade efetiva, alteramos. Mas este é um Mundo “desencantado”, que neutralizou as fórmulas, e nos pede para pensarmos, sermos um pouco mais racionais. E ser racional aqui não significa frieza na decisão, mas a sensibilidade apurada de perceber, compreender e discernir as nuanças de um tempo que nos surpreende.
Dias difíceis este em que toda situação for a de controle, se agiganta diante de nossas possibilidades, que reduzem, em tamanhos assustadores e nos obriga a recuar, e recuar, e recuar, até se esconder. Qual é o tamanho da nossa possibilidade coletiva diante do mundo que nos intimida?
Dias difíceis estes em que a racionalidade, aquela que me referi, parte, em que Deus parece ter sido substiuido pelas fórmulas (individuais e coletivas) e as nossas possibilidades, se perderam no mar.
Ronilso Pacheco

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007

girando...girando...girando (I)

é imprescindível a preocupação
com os rumos do mundo
ainda que de alguma forma, pela intuição
seja possível perceber que ele se aproxima
gradativamente
do fundo

o fundo algumas vezes é quase o topo
quando tudo se encontra de cabeça para baixo
como se a queda d'água caisse do poço
ainda que de alguma forma, pela leitura que se faz
possa aparentar que tudo permanece no lugar errôneamente
eu acho

eu acho incrível algumas vezes em que a fé, parte
e que tudo que permanece é a expectativa golpeada
cada indivíduo sendo uma alma buscando quem a trate
correndo, com a velocidade de algo que nunca cessa
e sem refletir e assimilar os riscos de uma
tensa trajetória
errada
Ronilso Pacheco
quadro: "o tormento" Kandinsky

O que haverá para amanhã?

"Quando pensamos no futuro, nunca estamos em nós
Estamos sempre além
O medo, o desejo, a esperança, jogam-nos sempre para o futuro
Sonegando-nos o sentimento e o exame do que é
Para distrair-nos com o que será
Embora o tempo passe, e já não sejamos mais”
Michel Eyquem de Montaigne, extraido do site de “Provocações”

Uma das características identificadas neste momento atual da história das sociedades é a chamada "falência das alternativas". Não é só o individualismo sofisticado e crescente que intimida, mas também a sensação de que "nada mais pode dar certo". De que tudo fora tentado, e que, talvez, politicamente, Francis Fukuyama tivesse razão quando falou a respeito do "fim da História". Há no mundo uma desconfiança coletiva, na possibilidade de que algo possa ser feito, mesmo que queiram fazer. A multidão das ruas, desacredita totalmente na mudança prometida pelas meia dúzias dos palácios.

Ainda que em lugares como a América Latina pareça demonstrar um movimento contrário, onde uma espécie de "messianismo secular" pareça fazer ferver as sociedades venezuelanas, bolivianas, equatorianas, nicaragüenses, enfim, nada indica que o diálogo entre os esperançosos e os geradores das esperanças venham convergir. Não obstante, a falência das alternativas que foram prometidas, uma a uma, projetaram para o futuro, que atravessou gerações, todas as possibilidades de concretização. "Alcançaremos amanhã, o que não nos foi permitido alcançar hoje".

Mas nada no horizonte indica que estamos, sinceramente, próximos disso. no livro do Profeta Isaías, Deus confronta o povo falando dos profetas que profetizavam paz, quando não havia, e não haveria paz. O "futuro" maquinado da pseudo-harmonia na sociedade contemporânea tem tudo para se converter numa grande frustração. Porque não deve ser o amnhã, o portador de nossas saídas, mas o hoje. Não o "hoje" do tempo midiático, mas o hoje para o qual somos diariamente convidados por Deus para alcançar.

A guerra no Iraque não deve acabar amanhã, "quando tudo estiver no lugar", mas hoje. A indústria bélica se mantém viva com o mercado da morte e das vidas sacrificadas à fogo não deveriam interromperem suas atividades amanhã, quando o lucro tiver alcançado o suficiente, mas hoje. Os diversos bolsões de pobreza que jogam o Brasil para o fundo de todas as listas de condição humana da ONU não precisam de uma intervenção para amanhã... precisam para hoje. Os Estados Unidos e a China não podem deixar uma decisão que contribua para o equlíbrio ambiental do planeta para amanhã... precisam fazer hoje.

O futuro não trará as respostas que esperamos, sem fé, sem Deus e sem a verdade, ele será sempre constituído das ruínas do que continua sendo o hoje. Infelizmente.

Ronilso Pacheco



sábado, 3 de fevereiro de 2007

Por Onde Deus Caminha na América Latina?

Eu andei falando e divulgando tanto desse artigo da Ivone Gebara, que inevitavelmente o publico para que seja conhecido integralmente.
“Como saberei dos caminhos de Deus? Como terei certeza se os indicados são de fato seus caminhos, suas veredas, seus passos, suas marcas? Quem os definiu? Quem os identificou? Quem os reconheceu? Quem os proclamou? Quem os acolheu? Quem os ensinou?
Como ousarei falar deles? A partir de que critérios? A partir de que imagens? Seriam caminhos de mulheres? De homens? De jovens, de idosos, de crianças?
Seriam caminhos indígenas, negros, amarelos, brancos ou misturados?
Caminhos do Deus de quem? Do meu? Do papa? De Pinochet? De Bush?
Fica cada vez mais claro que se Deus não é múltiplo ao menos tem caras múltiplas! Já não se pode mais falar de Deus como se fosse alguém de um rosto único. Por isso temos que perguntar: quem é mesmo Deus? Qual a sua identidade, sua importância, seu lugar, sua autoridade para que me decida a buscar os seus caminhos e não os meus?
Por que esses caminhos teriam mais importância do que os de Seu Cícero que acabei de encontrar puxando sua carroça de papelão e jornais velhos? Ou os caminhos de Dona Conceição, quase paralítica, sentada à beira de sua cama com a porta aberta para a rua, comendo pão doce e café sob os olhos vigilantes de seu cão protetor? Ou os caminhos de Severina, mocinha de 15 anos arrastando o irmão para a escola? Ou os caminhos da avó Madalena de mãos dadas com três netos levando-os para o centro da cidade para mendigar nas paradas de ônibus?
Destes personagens que vivem nas redondezas de minha casa conheço algo de seu caminho, algo de sua dor e alegria, algo de seu cotidiano, algo de sua vida. Conheço também algo de minha vida, de minhas buscas de meus caminhos e descaminhos. Mas, de Deus, não conheço nada. Por isso me pergunto como seria o caminho de Deus? Como seria seu cotidiano? Como seria seu espaço e seu tempo? Ou seria sem tempo e sem espaço?
Por que insistimos em buscar-lhe o caminho como se quiséssemos esquecer os nossos caminhos, como se pensássemos que há alguém cujo caminho é mais interessante e mais verdadeiro do que qualquer outro caminho? Por que buscar no desconhecido, no oculto, no misterioso, na Bíblia orientação ou modelo para nossos caminhos? Por que buscamos a perfeição do caminho quando somos apenas finitude e imperfeição? Por que buscamos o amor infinito quando só experimentamos as finitudes do amor?
No fundo já não entendo bem o que se quer quando se pergunta pelos caminhos de Deus na América Latina! Houve um tempo em que eu pensava que entendia.
Só sei que hoje experimento a falta de avenidas, a falta de boas estradas, a falta de grandes direções, de grandes orientações, de grandes caminhos para os caminhantes sedentos de justiça e de beleza.”
Extraído do site da Adital, há o link ali na lista desse blog.

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007

Mantendo a liberdade aprisionadora


“A liberdade de mercado não inclui a liberdade de não consumir, ou se retirar da situação criada pelo mercado”
Fredric
jameson
Quando li esta frase pela primeira vez, automaticamente me lembrei de um versículo de 2Pedro, 2:19, que diz "de quem alguém é vencido, do tal também se faz servo". Todos os dias, a humanidade parece travar uma batalha inclemente. Olhamos a nossa volta, e tudo nos remete ao consumo, tudo "é melhor", tudo "é necessário", tudo deve ser adquirido, tudo "vai mudar a sua vida, torná-la mais prática e simples". Nós tivemos de reaprender muito sobre liberdade, pois o decorrer do tempo, as rupturas causadas pelas mais diversas fatalidades na história da humanidade nos forçou, a todo momento, repensa-la, ampliar os conceitos que a identificavam.
Neste momento nos achamos livres. A sociedade ocidental aprendeu que a liberdade é parte vital de sua expressão, que é seu grande "legado" para todo o planeta. Toda vez que a liberdade for ameaçada em qualquer lugar do mundo, gritaríamos em seu favor, e mais ainda, quando no próprio ocidente ela fosse desafiada ou ignorada, imediatamente reagiríamos.
Mas o mercado criou um mundo a parte, um mundo onde a liberdade teve de ser reformulada, novamente conceitualizada, onde ela se aplica naqueles que a aplicam para fazer o que o mercado entende como "salutar". É assim.
Travamos uma batalha diária, as vezes sutil, as vezes desesperadas, pelo exercício de nossa liberdade de permanecer no "jogo". E nossa situação se agrava quando usamos Deus para "nos manter no jogo". Não queremos "tudo", mas queremos sempre "alguma coisa". Deus se torna fiador de nossa liberdade, essa liberdade aprisionadora, das conquistas infindáveis, das metas cruciais, dos alvos importantes, dos resultados frutos dos investimentos que foram feitos, dos sonhos que se perdem no horizonte, este horizonte cruel que nunca se aproxima totalmente, sempre distante. O homem aprendeu a viver em função do "por vir", sejam objetos, sejam realizações, bens materiais ou não.
A liberdade é isso. A deturpação da liberdade alcançada na Cruz é isso. Se deixarmos sermos vencidos, é isso que se tornará, do tal seremos servos. Se não repensarmos o nosso relacionamento com a nossa liberdade, se não a alcançarmos e enxergarmos além desta liberdade aprisionadora que foi propositalmente formulada, não passaremos de seu escravo. E, em tempo, é um perigo quando a liberdade se torna um senhor, a frente daquele que verdadeiramente é Senhor.
Ronilso Pacheco

Pós-modernismo Híbrido: A América Latina sem Lugar (I)



Há dois ou três anos atrás eu li um artigo escrito pelo Subcomandante Marcos, líder dos zapatistas mexicanos. Talvez seja necessário dizer que não me identifico com o subcomandante, nem sequer acredito nele, e a sua causa só desperta meu interesse até o ponto em que diz respeito a uma revindicação necessária para a visibilidade do povo pobre de Chiapas, daí em diante, nada nele e seus métodos me atrai. Continuo então...

O artigo se chamava "A velocidade do Sonho". Abordava caminhos e descaminhos da América Latina, sob uma perspectiva poética e as vezes até lúdica. Eu fiquei durante muito tempo com aquele artigo na cabeça, mas direcionava seu foco para outros aspectos, para as distinções de nossa geração, que receio sempre de chamar de emergente, porque o inconsciente de qualquer pessoa letrada vai aproximar o referencial de emergente, segundo aquilo que compreendemos e assimilamos do Atlântico Norte. Talvez quando falássemos em geração emergente aqui, devessemos sempre dizer "da América Latina".

É evidente que os ícones, o conjunto de símbolos da geração emergente são "extraterritoriais", como diz Zygmunt Bauman, mas ainda não seria suficiente para nos homogeinizar. A indústria cultural lida com as sociedades como massa, as transformações sociais e desesperança alteraram profundamente as relações e a postura da juventude nos centros urbanos, mas tudo isso também não passa incólume a nossa trajetória como continente.

A América Latina incluída na “periferia do planeta” para onde os “europeus” levaram as boas novas do evangelho, agora é madura em si mesma. Enquanto a América latina apanhava das baionetas militares, a Europa ditava os rumos da política internacional, o Estado do bem-estar social, o avanço dos “verdes”, a social democracia, os embriões da Terceira Via. Deus podia estar distante, mas a “maturidade” da democracia poderia substitui-lo. Mas a América Latina, da democracia débil e claudicante, cresceu com suas “veias abertas”, conforme célebre expressão do jornalista uruguaio Eduardo Galeano, tendo de encontrar Deus desesperadamente, como algo que lhe desse sentido, que lhe redimisse de uma trajetória de abandono, insignificância política e propriedade particular de seus mandatários. Um ambiente que não poderia deixar a igreja de fora, mesmo que ela tenha conseguido assim se manter durante um bom tempo.
Essa América cresceu com uma unidade linguistica quase uniforme. São consideráveis as exceções, mas a língua de Colombo e D. Quixote consegue manter-se como um vínculo consistente no continente. A história também nos torna nações “irmãs”, porque, afinal, quem de nós não se sustentou, ou sobreviveu como povo fora de ao menos um dos pontos da tricotomia exploração-ditadura-ingerência primeiromundista?

Tudo isso ainda é "poeiraa histórica", está em nós, e alterará tudo que chega até nós. Então sob qual ótica, a igreja pode olhar e compreender a geração emergente latinoamericana? De alguma forma, ainda creio que precisamos e podemos, primeiramente, ajudar o nós mesmos, a encontrar o nosso lugar, onde ele está, como nós o vemos, e sob que perspectiva vamos lidar com ele. E tudo isso pode ser só o começo.


Ronilso Pacheco

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007

Ensinamentos da costureirinha

Tive a oportunidade de assistir Balzac e a Costureirinha Chinesa, sem indicação, apenas passando pela locadora e me identifiquei ao ver. Assisti e tive vontade de assistir de novo. Filme muitissimo interessante sobre dois jovens, Luo e Ma, de 17 anos, que são enviados para um campo de "reeducação" durante a ditadura do líder Mao Tsé Tung na China, em função da Revolução Cultural.
Por serem letrados e filhos de mádicos e dentistas, os dois são considerados subversivos. No povoado, ambos fazem amizade e se apaixonam por uma costureirinha da região.
Mas é interessante notar no filme a importância, e eu diria a necessidade, da imaginação. É cômico, e bastante significativo ver os dois jovens narrando os filmes que assistiam na cidade, porque os "revolucionários" do Grande Timoneiro não podiam ver filmes, porque o cinema era uma arte burguesa. O povoado se reunia, e permaneciam atenciosos enquanto um narrava e o outro fazia a sonoplastia do que era narrado.
E o ponto que dá sentido ao filme. Eles escondem livros diversos, de grandes autores, como Flaubert, Tolstói, Dostoyévsky e, é claro, Balzac, para não serem queimados. O filme ajuda a perceber, para quem estiver disposto a perceber, que a criatividade e a capacidade imaginativa do homem é inata, é marca da imagem e semelhança de Deus, de maneira que ao basear um regime na perseguição e repressão disso, todos os caudilhos sucumbiram, ou foram surpreendidos, ante a capacidade do homem de fazer com que a imaginação vença, e que mesmo quando é simples, ela é a resposta de que fomos feitos para, entre outras coisas, criar e sonhar.

A oportunidade de compreender a liberdade do Novo Caminho



"As pessoas que vivem de acordo com o antigo caminho crêem na lei da linearidade, uma lei que declara que existe um A que leva ao B que você quer. Calcule A, faça o que manda e terá a vida que mais deseja. A pressão está ligada.Os que vivem no novo caminho crêem na lei da liberdade. Eles se aproximam como estão. Não se banham antes de se achegar a Deus. Vão a Deus para se banhar dele. Não se sentem pressionados para mudar apenas a vida interior ou a exterior, mas desejam mudança em ambas as esferas. Estão interessados em criar a oportunidade para a mudança, mesmo que isso signifique mergulhar sete vezes num rio lamacento ou marchar ao redor do muro de um inimigo durante sete dias e soprar trombetas. Eles vivem para o desejo mais sincero de seus corações: conhecer a Deus e satisfazer-se nele. Não vivem para uma vida melhor neste mundo. Quando a vida aqui é difícil, quando as coisas desmoronam, revelam mais claramente quem são. São cidadãos de outro mundo, que desejam mais o que está do outro lado que este mundo não pode oferecer. Então, sabiamente se entregam ao seu mais profundo desejo e confiam em Deus para revelar-se a eles. Essa é a lei da liberdade."
É tudo isso e mais um pouco, que torna o livro "Chega de Regras" do Larry Crabb, um livro fundamental para ser adquirido. Poucas vezes fui tão marcado por um livro quanto fui com este. Não é fácil, nem cômodo, reconhcer que está no caminho da linearidade, mesmo quando achamos que estamos desfrutando de pleno caminho da liberdade. Causa e efeito é, por muitas vezes, tão arraigada na caminhada cristã que as vezes, de alguma forma, vivemos de maneira sutil e inconsciente, para que ela aconteça, se "hamonize" em nossa vida, de maneira a determinar o "sucesso" de nossa vida espiritual.
Este é um livro que gostaria de usar como literatura adotada para trabalhar com novas lideranças. Num momento em que a velocidade e transitoriedade do mundo parece exigir "resultados" prementes, em que algo deve ser "urgentemente feito" para que esta geração se converta, o fundamento se torna frágil as vezes sem perceber. Queremos "cumprir nossa meta", queremos "combater o bom combate", queremos que os resultados nos mostrem quem somos, como se resultado fosse a versão contemporânea de frutos.
Cada página deste livro foi um golpe, as vezes leve como uma pontada incômoda, as pesado como um soco, certeiro, de mãos raivosamente fechadas. Talvez, penso, alguns destes socos certeiros tenham sido reduzidos a pontadas leves porque fui "anestesiado" por muitas das vezes em que tive a oportunidade de assistir as ministrações do pastor e amigo Paulo Júnior, que carrega muito do que é abordado pelo doutor Crabb.
Este livro está custando em torno de 30 a 35,00. É uma visão libertadora, a pressão vai se desligando a cada página, e você vai ficando cada vez mais "nu" na presença de Deus. Portanto... digo que vale a pena, é crucial. E eu continuo me aproximando da leitura do doutor Crabb. Que Deus o abençoe muito.
Ronilso Pacheco

O Observador

O que este mundo pode oferecer
Para uma sociedade tão golpeada pelo erro em todo lugar
Homens e mulheres mergulhados na frustração de viver
Á espera de uma saída, vivendo um messianismo secular

No momento da guerra
nada é tão desejado quanto a paz
mas hoje mesmo eu vi a paz deixar a terra
dizendo que não voltaria nunca mais

Qeum decide para onde a roda da história deve girar
Certamente controla o destino da humanidade
Quem tem, assim como um vício, o poder de dominar
Certamente pode manipular e inverter a verdade

abram hoje suas mentes e corações
e fujam da mentira deste mundo sem cor

Se Deus é a sua ilha em meio ao oceano de angústias
jamais seus pés perderão o chão
porque o mundo continua com suas estranhezas absurdas
mas ainda é possível, a redenção

Ronilso Pacheco

O mundo não deve caminhar sozinho

é imprescindível a preocupação
com os rumos do mundo
ainda que de alguma forma, pela intuição
seja possível perceber que ele se aproxima
gradativamente
do fundo

o fundo algumas vezes é quase o topo
quando tudo se encontra de cabeça para baixo
como se a queda d'água caisse do poço
ainda que de alguma forma, pela leitura que se faz
possa aparentar que tudo permanece no lugar
errôneamente
eu acho

Ronilso Pacheco

Uma Noite Rara...rica e surpreendente também!


"Senhoras e senhores. Respeitável público pagão. Bem vindo ao Teatro Mágico. Sinta-se à vontade". Foram essas as palavras que ouvimos na noite de domingo, dia 28 de janeiro (uma noite que já era rara pelo fato de eu e Renatinha termos cedido um domingo de culto na Comunidade S8, para estarmos em outro lugar, que não outra Comunidade, encontros, congressos, viajens ou coisas do tipo), antes de o ator, Fernando Anitelli vir do fundo de uma sala, não muito grande, mas cheia, declamando uma poesia, linda, diga-se de passagem, passando entre nós, enquanto os músicos, em seus figurinos, tocavam uma introdução percussiva e contagiante.
Era assim que começava o espetáculo (ou seria show?) "Entrada para Raros". A minha ida e da Renata se deveu a todo um esforço da Leandra Barros, irmãzona, de Vitória. Disse que tínhamos que ver... e ela acertou em tudo. Ficamos e estamos encantados com a genialidade do Fernando com suas músicas geniais, sua poesia tão rica como a muito muito tempo eu não via ou ouvia, uma musicalidade brilhante, performática e criativa. O meu primeiro contato com O Teatro Mágico trouxe todas as lembranças do que pensei quando o teatro da Comunidade S8 caminhou para a criação do Trotamundos, de quando antológico "Mula de Balaão" era uma inovadora forma de comunicar a visão de Deus.

Por quase duas horas ficamos ali... extasiados, surpresos... nossa imaginação pedindo para não acabar. Fiquei impactado com a letra da música do Fernando que satirizava marcelo D2 e suas "idelogias" de destruição. Um palhaço que cantava junto com Fernando encerrava dizendo "em busca da plhaçada perfeita". A letra colocava frases como "a minha Paz não cabe num anúncio de refrigerante", ou "essa marca de cerveja eu já sei qual é, mas a tua idéia...qual é?". Mas nada era tão surpreendente quanto ver o Fernando e os músicos puxar um côro que dizia "Ou é o trono ou é o inferno". Em "O mérito e o Monstro", Fernando cantava, e a trupe tocava ao mesmo tempo em que interpretava, o conflito diário da humanidade para corresponder as necessidades do trabalho, e toda a alienação que o desfio de "vencer na vida" traz para o homem. "Todos os dias eu me mato para não morrer", dizia a letra, enquanto com um fundo musical tenso, o mal, a opressão, a cobrança do cotidiano personificado num homem de preto com uma máscara de porco, esmurrava e vencia, o atormentado ser humano trabalhador Fernando.

Ficamos apaixonados pela "bonequinha" que era uma graça, carismática e perfeita na sua atuação. Amamos a canção "Ana e Mar", enfim... ficamos extremamente satisfeitos com o que fomos ver... e entendemos porque a Leandra fez questão de ver duas vezes seguidas. É bem verdade que nada substituiria a noite que teríamos na Comunidade, onde gostamos de estar, mas a ida ao FINEP, no Flamengo valeu cada esforço feito, cada passo até a estação das barcas a pé. Foi uma noite rara, de riqueza, diversidade cultural, satisfação e alegria. Há o link para o site do Teatro aqui neste blog... convido vc a fazer uma visita... vale a pena.

Ronilso Pacheco








vozesdaamérica.vozesdaamérica.vozesdaamérica

" Se iba apagando el día entre las piedras húmedas de la ciudad, a sorbos, como se consume
Ia-se apagando o dia entre as pedras úmidas da cidade, aos poucos, como se consome
el fuego en la ceniza. Cielo de cáscara de naranja, la sangre de las pitahayas goteaba entre
o fogo na cinza. Céu como casca de laranja, o sangue das pitahayas goteava entre
las nubes, a veces coloreadas de rojo y a veces rubias como el pelo del maíz o el cuero de
as nuvens, as vezes coloridas de vermelho e as vezes douradas como a pele do milho e o
los pumas. En lo alto del templo, un vigilante vio pasar una nube a ras del lago, casi
pelo dos pumas. No alto do templo, um vigilante viu passar uma nuvem beirando o lago,
besando el agua, y posarse a los pies del volcán. La nube se detuvo, y tan pronto como el
quase beijando a água, e posar aos pés do vulcão. A nuvem se deteve, e tão pronto, como o
sacerdote la vio cerrar los ojos, sin recogerse el manto, que arrastraba a lo largo de las
sacerdote a viu fechar os olhos, sem recolher o manto, que arrastava ao largo das
escaleras, bajó al templo gritando que la guerra había concluido. Dejaba caer los brazos,
escadas, chegou ao templo gritando que a guerra havia acabado. Deixava cair os braços,
como un pájaro las alas, al escapar el grito de sus labios, alzándolos de nuevo a cada grito.
Como um pássaro às asas, ao escapar o grito de seus lábios, batendoa-as de novo a
En el atrio, hacia Poniente, el sol puso en sus barbas, como en las piedras de la ciudad, un
Cada grito. No átrio, em direção ao poente, o sol se pôs em suas barbas, como nas pedras
poco de algo que moría. "
da cidade, um pouco de algo que morria.

Miguel Ángel Astúrias, escritor guatemalteco em "Lendas da Guatemala"

Um livro para gerar um outro Olhar



Em diversas situações e vezes, o olhar dos criadores sobre as realidades onde estão inseridos ou dela, de alguma forma foram, foram forçados ou escolheram sair, é um olhar determinantemente mais revelador do que a seqüência de imagens e "narrações" que são colocadas diante de nós diariamente. Os criadores, claro, são os artistas e intelctuais que puderam observar, vivenciar e pensar suas vidas, profundamente alteradas pelos fatos ao redor.
Em geral, é ainda mais interessante quando tais observações são feitas por crianças, ou sob a ótica delas. É o que torna muito interessante o livro do afegão, residente nos Estados Unidos, Khaled Hosseini, com o seu primeiro livro, "O Caçador de Pipas". Há muito que eu não lia um livro, de um escritor contemporâneo, tão interessante. A infância de Amir e Hassan, que se passa num Afeganistão pouco conhecido e lembrado (já que o ocidente não lembra de nada além terras áridas e o regime implacável dos talibãs) estimula um outro olhar sobre o país, comove com sua leitura infantil sobre lugares, culinária, lazer e brincadeiras, se destacando é claro, o campeonato de pipas como sendo a diversão mais esperada do ano.
A fidelidade e a coragem de Hassan, que contrasta com os conflitos e a timidez de Amir, ensinam muito de relacionamento, de ceder ou viver em função de alguém. Uma fidelidade que não teme nem a morte, quando toda conjuntura do Afeganistão é profundamente e barbaramente alterada pela tomada de poder dos talibãs.
Cnotraditoriamente, Amir nunca conseguiu se comportar a altura, e mesmo quando esteve diante da oportunidade de se redimir, o conflito, o medo e atimidez foram maiores, se agigantaram de tal forma, que tornou-se incapaz de corresponder. este mundo de amizade entre o Amir, rico e letrado, cheio de imaginação, e o Hassan, pobre, inocente, mas valente e de dignidade supra, ensina de tudo um pouco.
Aprendi muito com a leitura deste livro impressionante, recomendo da mesma forma, como uma maneira de enxergar oriente médio além do "barril de pólvoras", do povo "pobre coitado" que precisa de conversão. Porque é evidente que ele precisa de conversão como qualquer outro.
Ronilso Pachco

Um olhar sobre a América... e sobre Deus


Recentemente, li um artigo brilhante, um dos mais brilhantes que já li, intitulado "Por Onde Deus Caminha na América Latina?", escrito pela teóloga Ivone Gebara, para o site da Adital. Fui marcado pelo conteúdo do texto, pelo tamanho e a profundidade do alcance de sua reflexão. Em parte porque talvez nunca tivesse pensado, ou ousado pensar em Deus, sobre essa perspectiva, olhando para o meu continente. Por um lado, sou amante incondicional da América Latina, do seu cinema, sua literatura, sua arte, e, principalmente de sua música, de sua riqueza, por outro, sou, ou ao menos me considero, engajado no desafio de somar forças no desafio de comunicar a visão de Deus para mundo, para minha geração, e por que não, para o meu continente.A pergunta de Gebara me toca, porque também gostaria de saber, por onde Deus aqui anda, mas não evidenemente questionando que Ele nos tivesse abandonado, mas corroborando a curiosidade de para onde foi, ou é, que nós, que a América Latina o relegou. É questão de saber qual é, onde se encontra, o caminho do caminhante.Não enxergo com tanta simplicidade as dissertações sobre mundo pós-moderno, pós-tudo, multiculturalismo, e outras nomenclaturas tão atraentes quanto claras. E acho que não o faço porque a perspectiva latina não me permite com tanta facilidade. Minha geração habita um mundo complexo, minha geração é maioria na América latina e Caribe e... acreditem, nossa contemporaneidade não apresenta tanta simetria com o planeta além do Atlântico-Pacífico.O artigo da senhora Gebara fala de um Deus que no mínimo se expressa em diversidade de rostos simples... eu acrescento sobre Deus se expressando na riqueza de linguagens diversas do povoado diverso, que compõe nossa terra do México a Terra do Fogo. No mundo inteiro... há uma geração que no fim... pergunta por Deus de alguma forma. Na América Latina ele caminha, mesmo quando não é observado, porque quando isso acontece, passa a ser o desafio de seus "acompanhantes" indicar como alcançá-lo, e a melhor forma de ser alcançado por ele, em estado de liberdade.
ronilso pacheco