Nunca uma semana impôs tanto sobre mim o desafio tão grande, nem mesmo exigiu de mim uma maturidade tão consolidada. Nunca fui tão tirado, quase que forçosamente, da dimensão limitada da nossa visão natural e obrigado, querendo ou não, a alcançar a dimensão da eternidade, a qual eu realmente pertenço. Nunca me vi tão obrigado a estar pronto para se posicionar, assimilar, e fazer com que minha assimilação ajudasse outros, próximos ou distantes, a discernirem e assimilarem a mesma situação.
Ainda tentando entender e assimilar a perda dos três amigos e irmãos do domingo de páscoa, todos nós tivemos de tomar fôlego e receber a notícia do falecimento do pastor FÁBIO RAMOS DE CARVALHO, nosso amigo, irmão mais velho para alguns, pai para outros, referencial para quase todos, "bispo", "cacatua", figura, etc. Pastor fundador da comunidade cristã Caverna de Adulão, em Belo Horizonte, Fabinho faleceu em Havana, Cuba, vítima de um infarto fulminante, na quinta-feira 12 de Abril.
Mas ao contrário do que possa parecer, não quero "narrar" a vida do Fábio, nem seus feitos (ele não gostaria disso). Mas, se o espaço é pouco, prefiro expor algumas questões que essa perda (?) expõe, e impõe sobre nós (isto sim, pensar, refletir, propor, taí uma coisa que ele gostaria de ver).
Mais uma vez, nos dividimos entre a dor da perda e a alegria de saber para onde ele partiu. Mas afinal de contas, por que estes sentimentos se confundem tanto nessa hora? Por que é preciso um esforço tão grande para entender aquilo que para nós deveria ser tão facilmente compreendido? Por que nossa limitação está tão mais próxima do que insistimos em acreditar que está?
Já ouvi que parte dessa tristeza, além é claro, de saber a falta que nossos irmão farão entre nós, é que nós não fomos feito para a morte... nossa essência é a eternidade. Por isso, a morte nos confronta... seja como for. Cada um de nós gostaria de desfrutar de uma subida com o Senhor, baseada em 1Tessalonicenses 4:16-18. Mas a morte parece a "usurpação" deste "privilégio". Também já me falaram que momentos como este, com esta intensidade, é o único momento em que nós somos "sacudidos" na nossa acomodação nesta terra, na construção de uma vida planejada inconscientemente para ficar aqui. Mas será possível que perderíamos tanto a dimensão das coisas que não se vêem, e são eternas, e nos prendemos nas limitações da realidade naturalmente visível, e são passageiras? Quase todos disseram que Deus está querendo dizer algo... mas o que? O que está sendo dito não está claro, ou a clareza e a simplicidade de como está sendo dito ainda está demasiadamente além do que seria próprio a nossa compreensão?
Nós perdemos um soldado, um dos soldados que estavam a frente, um dos soldados que chegaram a frente de batalha primeiro, antes de muitos de nós. É difícil agora imaginar uma outra forma de tudo isso, ou seja, esse algo que Deus tem a dizer, ser dito de maneira a alcançar tantos irmãos, ministérios, líderes, pessoas que caminham juntas, na visão e nos desafios. Deus não quis dar um toque... quis dar um abalo.
Mas afinal de contas, o que vamos fazer diante de tudo isso? O que todo esse abalo vai gerar em nós, na nossa trajetória restante, no caminho dos caminhantes? Por quanto tempo ainda sentiremos a fissura entre a realidade limitada de um mundo em que não cabemos mais e a realidade infinita de um reino que viemos revelar? Um dia, em um outro texto, espero compartilhar das respostas... no momento... só consigo compartilhar das perguntas. E é assim que cada interrogação que se apresenta, tem a mesma semântica das pedras na estrada, as pedras no caminho dos caminhantes. E, ainda como as pedras, alguns chutam, alguns tropeçam, e alguns simplesmente passam por elas, elas são ultrapassadas, elas ficam para trás.
Sentiremos saudades, eu sinto neste momento. As lágrimas do meu coração ainda não secaram totalmente. Mas eu acredito que posso ser um daqueles que seguirão em frente. Ultrapassarei as "pedras interrogativas", e findarei a fissura.
Obrigado Fábio. Aguarde que chegaremos, pois ainda temos algumas coisas para resolver aqui, cooperando com Deus. E fico feliz, de você ter combatido o bom combate.
Ronilso Pacheco... e o coração ainda chora...