sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007

Pós-modernismo Híbrido: A América Latina sem Lugar (I)



Há dois ou três anos atrás eu li um artigo escrito pelo Subcomandante Marcos, líder dos zapatistas mexicanos. Talvez seja necessário dizer que não me identifico com o subcomandante, nem sequer acredito nele, e a sua causa só desperta meu interesse até o ponto em que diz respeito a uma revindicação necessária para a visibilidade do povo pobre de Chiapas, daí em diante, nada nele e seus métodos me atrai. Continuo então...

O artigo se chamava "A velocidade do Sonho". Abordava caminhos e descaminhos da América Latina, sob uma perspectiva poética e as vezes até lúdica. Eu fiquei durante muito tempo com aquele artigo na cabeça, mas direcionava seu foco para outros aspectos, para as distinções de nossa geração, que receio sempre de chamar de emergente, porque o inconsciente de qualquer pessoa letrada vai aproximar o referencial de emergente, segundo aquilo que compreendemos e assimilamos do Atlântico Norte. Talvez quando falássemos em geração emergente aqui, devessemos sempre dizer "da América Latina".

É evidente que os ícones, o conjunto de símbolos da geração emergente são "extraterritoriais", como diz Zygmunt Bauman, mas ainda não seria suficiente para nos homogeinizar. A indústria cultural lida com as sociedades como massa, as transformações sociais e desesperança alteraram profundamente as relações e a postura da juventude nos centros urbanos, mas tudo isso também não passa incólume a nossa trajetória como continente.

A América Latina incluída na “periferia do planeta” para onde os “europeus” levaram as boas novas do evangelho, agora é madura em si mesma. Enquanto a América latina apanhava das baionetas militares, a Europa ditava os rumos da política internacional, o Estado do bem-estar social, o avanço dos “verdes”, a social democracia, os embriões da Terceira Via. Deus podia estar distante, mas a “maturidade” da democracia poderia substitui-lo. Mas a América Latina, da democracia débil e claudicante, cresceu com suas “veias abertas”, conforme célebre expressão do jornalista uruguaio Eduardo Galeano, tendo de encontrar Deus desesperadamente, como algo que lhe desse sentido, que lhe redimisse de uma trajetória de abandono, insignificância política e propriedade particular de seus mandatários. Um ambiente que não poderia deixar a igreja de fora, mesmo que ela tenha conseguido assim se manter durante um bom tempo.
Essa América cresceu com uma unidade linguistica quase uniforme. São consideráveis as exceções, mas a língua de Colombo e D. Quixote consegue manter-se como um vínculo consistente no continente. A história também nos torna nações “irmãs”, porque, afinal, quem de nós não se sustentou, ou sobreviveu como povo fora de ao menos um dos pontos da tricotomia exploração-ditadura-ingerência primeiromundista?

Tudo isso ainda é "poeiraa histórica", está em nós, e alterará tudo que chega até nós. Então sob qual ótica, a igreja pode olhar e compreender a geração emergente latinoamericana? De alguma forma, ainda creio que precisamos e podemos, primeiramente, ajudar o nós mesmos, a encontrar o nosso lugar, onde ele está, como nós o vemos, e sob que perspectiva vamos lidar com ele. E tudo isso pode ser só o começo.


Ronilso Pacheco

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