quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007

girando...girando...girando (I)

é imprescindível a preocupação
com os rumos do mundo
ainda que de alguma forma, pela intuição
seja possível perceber que ele se aproxima
gradativamente
do fundo

o fundo algumas vezes é quase o topo
quando tudo se encontra de cabeça para baixo
como se a queda d'água caisse do poço
ainda que de alguma forma, pela leitura que se faz
possa aparentar que tudo permanece no lugar errôneamente
eu acho

eu acho incrível algumas vezes em que a fé, parte
e que tudo que permanece é a expectativa golpeada
cada indivíduo sendo uma alma buscando quem a trate
correndo, com a velocidade de algo que nunca cessa
e sem refletir e assimilar os riscos de uma
tensa trajetória
errada
Ronilso Pacheco
quadro: "o tormento" Kandinsky

O que haverá para amanhã?

"Quando pensamos no futuro, nunca estamos em nós
Estamos sempre além
O medo, o desejo, a esperança, jogam-nos sempre para o futuro
Sonegando-nos o sentimento e o exame do que é
Para distrair-nos com o que será
Embora o tempo passe, e já não sejamos mais”
Michel Eyquem de Montaigne, extraido do site de “Provocações”

Uma das características identificadas neste momento atual da história das sociedades é a chamada "falência das alternativas". Não é só o individualismo sofisticado e crescente que intimida, mas também a sensação de que "nada mais pode dar certo". De que tudo fora tentado, e que, talvez, politicamente, Francis Fukuyama tivesse razão quando falou a respeito do "fim da História". Há no mundo uma desconfiança coletiva, na possibilidade de que algo possa ser feito, mesmo que queiram fazer. A multidão das ruas, desacredita totalmente na mudança prometida pelas meia dúzias dos palácios.

Ainda que em lugares como a América Latina pareça demonstrar um movimento contrário, onde uma espécie de "messianismo secular" pareça fazer ferver as sociedades venezuelanas, bolivianas, equatorianas, nicaragüenses, enfim, nada indica que o diálogo entre os esperançosos e os geradores das esperanças venham convergir. Não obstante, a falência das alternativas que foram prometidas, uma a uma, projetaram para o futuro, que atravessou gerações, todas as possibilidades de concretização. "Alcançaremos amanhã, o que não nos foi permitido alcançar hoje".

Mas nada no horizonte indica que estamos, sinceramente, próximos disso. no livro do Profeta Isaías, Deus confronta o povo falando dos profetas que profetizavam paz, quando não havia, e não haveria paz. O "futuro" maquinado da pseudo-harmonia na sociedade contemporânea tem tudo para se converter numa grande frustração. Porque não deve ser o amnhã, o portador de nossas saídas, mas o hoje. Não o "hoje" do tempo midiático, mas o hoje para o qual somos diariamente convidados por Deus para alcançar.

A guerra no Iraque não deve acabar amanhã, "quando tudo estiver no lugar", mas hoje. A indústria bélica se mantém viva com o mercado da morte e das vidas sacrificadas à fogo não deveriam interromperem suas atividades amanhã, quando o lucro tiver alcançado o suficiente, mas hoje. Os diversos bolsões de pobreza que jogam o Brasil para o fundo de todas as listas de condição humana da ONU não precisam de uma intervenção para amanhã... precisam para hoje. Os Estados Unidos e a China não podem deixar uma decisão que contribua para o equlíbrio ambiental do planeta para amanhã... precisam fazer hoje.

O futuro não trará as respostas que esperamos, sem fé, sem Deus e sem a verdade, ele será sempre constituído das ruínas do que continua sendo o hoje. Infelizmente.

Ronilso Pacheco



sábado, 3 de fevereiro de 2007

Por Onde Deus Caminha na América Latina?

Eu andei falando e divulgando tanto desse artigo da Ivone Gebara, que inevitavelmente o publico para que seja conhecido integralmente.
“Como saberei dos caminhos de Deus? Como terei certeza se os indicados são de fato seus caminhos, suas veredas, seus passos, suas marcas? Quem os definiu? Quem os identificou? Quem os reconheceu? Quem os proclamou? Quem os acolheu? Quem os ensinou?
Como ousarei falar deles? A partir de que critérios? A partir de que imagens? Seriam caminhos de mulheres? De homens? De jovens, de idosos, de crianças?
Seriam caminhos indígenas, negros, amarelos, brancos ou misturados?
Caminhos do Deus de quem? Do meu? Do papa? De Pinochet? De Bush?
Fica cada vez mais claro que se Deus não é múltiplo ao menos tem caras múltiplas! Já não se pode mais falar de Deus como se fosse alguém de um rosto único. Por isso temos que perguntar: quem é mesmo Deus? Qual a sua identidade, sua importância, seu lugar, sua autoridade para que me decida a buscar os seus caminhos e não os meus?
Por que esses caminhos teriam mais importância do que os de Seu Cícero que acabei de encontrar puxando sua carroça de papelão e jornais velhos? Ou os caminhos de Dona Conceição, quase paralítica, sentada à beira de sua cama com a porta aberta para a rua, comendo pão doce e café sob os olhos vigilantes de seu cão protetor? Ou os caminhos de Severina, mocinha de 15 anos arrastando o irmão para a escola? Ou os caminhos da avó Madalena de mãos dadas com três netos levando-os para o centro da cidade para mendigar nas paradas de ônibus?
Destes personagens que vivem nas redondezas de minha casa conheço algo de seu caminho, algo de sua dor e alegria, algo de seu cotidiano, algo de sua vida. Conheço também algo de minha vida, de minhas buscas de meus caminhos e descaminhos. Mas, de Deus, não conheço nada. Por isso me pergunto como seria o caminho de Deus? Como seria seu cotidiano? Como seria seu espaço e seu tempo? Ou seria sem tempo e sem espaço?
Por que insistimos em buscar-lhe o caminho como se quiséssemos esquecer os nossos caminhos, como se pensássemos que há alguém cujo caminho é mais interessante e mais verdadeiro do que qualquer outro caminho? Por que buscar no desconhecido, no oculto, no misterioso, na Bíblia orientação ou modelo para nossos caminhos? Por que buscamos a perfeição do caminho quando somos apenas finitude e imperfeição? Por que buscamos o amor infinito quando só experimentamos as finitudes do amor?
No fundo já não entendo bem o que se quer quando se pergunta pelos caminhos de Deus na América Latina! Houve um tempo em que eu pensava que entendia.
Só sei que hoje experimento a falta de avenidas, a falta de boas estradas, a falta de grandes direções, de grandes orientações, de grandes caminhos para os caminhantes sedentos de justiça e de beleza.”
Extraído do site da Adital, há o link ali na lista desse blog.

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007

Mantendo a liberdade aprisionadora


“A liberdade de mercado não inclui a liberdade de não consumir, ou se retirar da situação criada pelo mercado”
Fredric
jameson
Quando li esta frase pela primeira vez, automaticamente me lembrei de um versículo de 2Pedro, 2:19, que diz "de quem alguém é vencido, do tal também se faz servo". Todos os dias, a humanidade parece travar uma batalha inclemente. Olhamos a nossa volta, e tudo nos remete ao consumo, tudo "é melhor", tudo "é necessário", tudo deve ser adquirido, tudo "vai mudar a sua vida, torná-la mais prática e simples". Nós tivemos de reaprender muito sobre liberdade, pois o decorrer do tempo, as rupturas causadas pelas mais diversas fatalidades na história da humanidade nos forçou, a todo momento, repensa-la, ampliar os conceitos que a identificavam.
Neste momento nos achamos livres. A sociedade ocidental aprendeu que a liberdade é parte vital de sua expressão, que é seu grande "legado" para todo o planeta. Toda vez que a liberdade for ameaçada em qualquer lugar do mundo, gritaríamos em seu favor, e mais ainda, quando no próprio ocidente ela fosse desafiada ou ignorada, imediatamente reagiríamos.
Mas o mercado criou um mundo a parte, um mundo onde a liberdade teve de ser reformulada, novamente conceitualizada, onde ela se aplica naqueles que a aplicam para fazer o que o mercado entende como "salutar". É assim.
Travamos uma batalha diária, as vezes sutil, as vezes desesperadas, pelo exercício de nossa liberdade de permanecer no "jogo". E nossa situação se agrava quando usamos Deus para "nos manter no jogo". Não queremos "tudo", mas queremos sempre "alguma coisa". Deus se torna fiador de nossa liberdade, essa liberdade aprisionadora, das conquistas infindáveis, das metas cruciais, dos alvos importantes, dos resultados frutos dos investimentos que foram feitos, dos sonhos que se perdem no horizonte, este horizonte cruel que nunca se aproxima totalmente, sempre distante. O homem aprendeu a viver em função do "por vir", sejam objetos, sejam realizações, bens materiais ou não.
A liberdade é isso. A deturpação da liberdade alcançada na Cruz é isso. Se deixarmos sermos vencidos, é isso que se tornará, do tal seremos servos. Se não repensarmos o nosso relacionamento com a nossa liberdade, se não a alcançarmos e enxergarmos além desta liberdade aprisionadora que foi propositalmente formulada, não passaremos de seu escravo. E, em tempo, é um perigo quando a liberdade se torna um senhor, a frente daquele que verdadeiramente é Senhor.
Ronilso Pacheco

Pós-modernismo Híbrido: A América Latina sem Lugar (I)



Há dois ou três anos atrás eu li um artigo escrito pelo Subcomandante Marcos, líder dos zapatistas mexicanos. Talvez seja necessário dizer que não me identifico com o subcomandante, nem sequer acredito nele, e a sua causa só desperta meu interesse até o ponto em que diz respeito a uma revindicação necessária para a visibilidade do povo pobre de Chiapas, daí em diante, nada nele e seus métodos me atrai. Continuo então...

O artigo se chamava "A velocidade do Sonho". Abordava caminhos e descaminhos da América Latina, sob uma perspectiva poética e as vezes até lúdica. Eu fiquei durante muito tempo com aquele artigo na cabeça, mas direcionava seu foco para outros aspectos, para as distinções de nossa geração, que receio sempre de chamar de emergente, porque o inconsciente de qualquer pessoa letrada vai aproximar o referencial de emergente, segundo aquilo que compreendemos e assimilamos do Atlântico Norte. Talvez quando falássemos em geração emergente aqui, devessemos sempre dizer "da América Latina".

É evidente que os ícones, o conjunto de símbolos da geração emergente são "extraterritoriais", como diz Zygmunt Bauman, mas ainda não seria suficiente para nos homogeinizar. A indústria cultural lida com as sociedades como massa, as transformações sociais e desesperança alteraram profundamente as relações e a postura da juventude nos centros urbanos, mas tudo isso também não passa incólume a nossa trajetória como continente.

A América Latina incluída na “periferia do planeta” para onde os “europeus” levaram as boas novas do evangelho, agora é madura em si mesma. Enquanto a América latina apanhava das baionetas militares, a Europa ditava os rumos da política internacional, o Estado do bem-estar social, o avanço dos “verdes”, a social democracia, os embriões da Terceira Via. Deus podia estar distante, mas a “maturidade” da democracia poderia substitui-lo. Mas a América Latina, da democracia débil e claudicante, cresceu com suas “veias abertas”, conforme célebre expressão do jornalista uruguaio Eduardo Galeano, tendo de encontrar Deus desesperadamente, como algo que lhe desse sentido, que lhe redimisse de uma trajetória de abandono, insignificância política e propriedade particular de seus mandatários. Um ambiente que não poderia deixar a igreja de fora, mesmo que ela tenha conseguido assim se manter durante um bom tempo.
Essa América cresceu com uma unidade linguistica quase uniforme. São consideráveis as exceções, mas a língua de Colombo e D. Quixote consegue manter-se como um vínculo consistente no continente. A história também nos torna nações “irmãs”, porque, afinal, quem de nós não se sustentou, ou sobreviveu como povo fora de ao menos um dos pontos da tricotomia exploração-ditadura-ingerência primeiromundista?

Tudo isso ainda é "poeiraa histórica", está em nós, e alterará tudo que chega até nós. Então sob qual ótica, a igreja pode olhar e compreender a geração emergente latinoamericana? De alguma forma, ainda creio que precisamos e podemos, primeiramente, ajudar o nós mesmos, a encontrar o nosso lugar, onde ele está, como nós o vemos, e sob que perspectiva vamos lidar com ele. E tudo isso pode ser só o começo.


Ronilso Pacheco

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007

Ensinamentos da costureirinha

Tive a oportunidade de assistir Balzac e a Costureirinha Chinesa, sem indicação, apenas passando pela locadora e me identifiquei ao ver. Assisti e tive vontade de assistir de novo. Filme muitissimo interessante sobre dois jovens, Luo e Ma, de 17 anos, que são enviados para um campo de "reeducação" durante a ditadura do líder Mao Tsé Tung na China, em função da Revolução Cultural.
Por serem letrados e filhos de mádicos e dentistas, os dois são considerados subversivos. No povoado, ambos fazem amizade e se apaixonam por uma costureirinha da região.
Mas é interessante notar no filme a importância, e eu diria a necessidade, da imaginação. É cômico, e bastante significativo ver os dois jovens narrando os filmes que assistiam na cidade, porque os "revolucionários" do Grande Timoneiro não podiam ver filmes, porque o cinema era uma arte burguesa. O povoado se reunia, e permaneciam atenciosos enquanto um narrava e o outro fazia a sonoplastia do que era narrado.
E o ponto que dá sentido ao filme. Eles escondem livros diversos, de grandes autores, como Flaubert, Tolstói, Dostoyévsky e, é claro, Balzac, para não serem queimados. O filme ajuda a perceber, para quem estiver disposto a perceber, que a criatividade e a capacidade imaginativa do homem é inata, é marca da imagem e semelhança de Deus, de maneira que ao basear um regime na perseguição e repressão disso, todos os caudilhos sucumbiram, ou foram surpreendidos, ante a capacidade do homem de fazer com que a imaginação vença, e que mesmo quando é simples, ela é a resposta de que fomos feitos para, entre outras coisas, criar e sonhar.

A oportunidade de compreender a liberdade do Novo Caminho



"As pessoas que vivem de acordo com o antigo caminho crêem na lei da linearidade, uma lei que declara que existe um A que leva ao B que você quer. Calcule A, faça o que manda e terá a vida que mais deseja. A pressão está ligada.Os que vivem no novo caminho crêem na lei da liberdade. Eles se aproximam como estão. Não se banham antes de se achegar a Deus. Vão a Deus para se banhar dele. Não se sentem pressionados para mudar apenas a vida interior ou a exterior, mas desejam mudança em ambas as esferas. Estão interessados em criar a oportunidade para a mudança, mesmo que isso signifique mergulhar sete vezes num rio lamacento ou marchar ao redor do muro de um inimigo durante sete dias e soprar trombetas. Eles vivem para o desejo mais sincero de seus corações: conhecer a Deus e satisfazer-se nele. Não vivem para uma vida melhor neste mundo. Quando a vida aqui é difícil, quando as coisas desmoronam, revelam mais claramente quem são. São cidadãos de outro mundo, que desejam mais o que está do outro lado que este mundo não pode oferecer. Então, sabiamente se entregam ao seu mais profundo desejo e confiam em Deus para revelar-se a eles. Essa é a lei da liberdade."
É tudo isso e mais um pouco, que torna o livro "Chega de Regras" do Larry Crabb, um livro fundamental para ser adquirido. Poucas vezes fui tão marcado por um livro quanto fui com este. Não é fácil, nem cômodo, reconhcer que está no caminho da linearidade, mesmo quando achamos que estamos desfrutando de pleno caminho da liberdade. Causa e efeito é, por muitas vezes, tão arraigada na caminhada cristã que as vezes, de alguma forma, vivemos de maneira sutil e inconsciente, para que ela aconteça, se "hamonize" em nossa vida, de maneira a determinar o "sucesso" de nossa vida espiritual.
Este é um livro que gostaria de usar como literatura adotada para trabalhar com novas lideranças. Num momento em que a velocidade e transitoriedade do mundo parece exigir "resultados" prementes, em que algo deve ser "urgentemente feito" para que esta geração se converta, o fundamento se torna frágil as vezes sem perceber. Queremos "cumprir nossa meta", queremos "combater o bom combate", queremos que os resultados nos mostrem quem somos, como se resultado fosse a versão contemporânea de frutos.
Cada página deste livro foi um golpe, as vezes leve como uma pontada incômoda, as pesado como um soco, certeiro, de mãos raivosamente fechadas. Talvez, penso, alguns destes socos certeiros tenham sido reduzidos a pontadas leves porque fui "anestesiado" por muitas das vezes em que tive a oportunidade de assistir as ministrações do pastor e amigo Paulo Júnior, que carrega muito do que é abordado pelo doutor Crabb.
Este livro está custando em torno de 30 a 35,00. É uma visão libertadora, a pressão vai se desligando a cada página, e você vai ficando cada vez mais "nu" na presença de Deus. Portanto... digo que vale a pena, é crucial. E eu continuo me aproximando da leitura do doutor Crabb. Que Deus o abençoe muito.
Ronilso Pacheco

O Observador

O que este mundo pode oferecer
Para uma sociedade tão golpeada pelo erro em todo lugar
Homens e mulheres mergulhados na frustração de viver
Á espera de uma saída, vivendo um messianismo secular

No momento da guerra
nada é tão desejado quanto a paz
mas hoje mesmo eu vi a paz deixar a terra
dizendo que não voltaria nunca mais

Qeum decide para onde a roda da história deve girar
Certamente controla o destino da humanidade
Quem tem, assim como um vício, o poder de dominar
Certamente pode manipular e inverter a verdade

abram hoje suas mentes e corações
e fujam da mentira deste mundo sem cor

Se Deus é a sua ilha em meio ao oceano de angústias
jamais seus pés perderão o chão
porque o mundo continua com suas estranhezas absurdas
mas ainda é possível, a redenção

Ronilso Pacheco

O mundo não deve caminhar sozinho

é imprescindível a preocupação
com os rumos do mundo
ainda que de alguma forma, pela intuição
seja possível perceber que ele se aproxima
gradativamente
do fundo

o fundo algumas vezes é quase o topo
quando tudo se encontra de cabeça para baixo
como se a queda d'água caisse do poço
ainda que de alguma forma, pela leitura que se faz
possa aparentar que tudo permanece no lugar
errôneamente
eu acho

Ronilso Pacheco

Uma Noite Rara...rica e surpreendente também!


"Senhoras e senhores. Respeitável público pagão. Bem vindo ao Teatro Mágico. Sinta-se à vontade". Foram essas as palavras que ouvimos na noite de domingo, dia 28 de janeiro (uma noite que já era rara pelo fato de eu e Renatinha termos cedido um domingo de culto na Comunidade S8, para estarmos em outro lugar, que não outra Comunidade, encontros, congressos, viajens ou coisas do tipo), antes de o ator, Fernando Anitelli vir do fundo de uma sala, não muito grande, mas cheia, declamando uma poesia, linda, diga-se de passagem, passando entre nós, enquanto os músicos, em seus figurinos, tocavam uma introdução percussiva e contagiante.
Era assim que começava o espetáculo (ou seria show?) "Entrada para Raros". A minha ida e da Renata se deveu a todo um esforço da Leandra Barros, irmãzona, de Vitória. Disse que tínhamos que ver... e ela acertou em tudo. Ficamos e estamos encantados com a genialidade do Fernando com suas músicas geniais, sua poesia tão rica como a muito muito tempo eu não via ou ouvia, uma musicalidade brilhante, performática e criativa. O meu primeiro contato com O Teatro Mágico trouxe todas as lembranças do que pensei quando o teatro da Comunidade S8 caminhou para a criação do Trotamundos, de quando antológico "Mula de Balaão" era uma inovadora forma de comunicar a visão de Deus.

Por quase duas horas ficamos ali... extasiados, surpresos... nossa imaginação pedindo para não acabar. Fiquei impactado com a letra da música do Fernando que satirizava marcelo D2 e suas "idelogias" de destruição. Um palhaço que cantava junto com Fernando encerrava dizendo "em busca da plhaçada perfeita". A letra colocava frases como "a minha Paz não cabe num anúncio de refrigerante", ou "essa marca de cerveja eu já sei qual é, mas a tua idéia...qual é?". Mas nada era tão surpreendente quanto ver o Fernando e os músicos puxar um côro que dizia "Ou é o trono ou é o inferno". Em "O mérito e o Monstro", Fernando cantava, e a trupe tocava ao mesmo tempo em que interpretava, o conflito diário da humanidade para corresponder as necessidades do trabalho, e toda a alienação que o desfio de "vencer na vida" traz para o homem. "Todos os dias eu me mato para não morrer", dizia a letra, enquanto com um fundo musical tenso, o mal, a opressão, a cobrança do cotidiano personificado num homem de preto com uma máscara de porco, esmurrava e vencia, o atormentado ser humano trabalhador Fernando.

Ficamos apaixonados pela "bonequinha" que era uma graça, carismática e perfeita na sua atuação. Amamos a canção "Ana e Mar", enfim... ficamos extremamente satisfeitos com o que fomos ver... e entendemos porque a Leandra fez questão de ver duas vezes seguidas. É bem verdade que nada substituiria a noite que teríamos na Comunidade, onde gostamos de estar, mas a ida ao FINEP, no Flamengo valeu cada esforço feito, cada passo até a estação das barcas a pé. Foi uma noite rara, de riqueza, diversidade cultural, satisfação e alegria. Há o link para o site do Teatro aqui neste blog... convido vc a fazer uma visita... vale a pena.

Ronilso Pacheco








vozesdaamérica.vozesdaamérica.vozesdaamérica

" Se iba apagando el día entre las piedras húmedas de la ciudad, a sorbos, como se consume
Ia-se apagando o dia entre as pedras úmidas da cidade, aos poucos, como se consome
el fuego en la ceniza. Cielo de cáscara de naranja, la sangre de las pitahayas goteaba entre
o fogo na cinza. Céu como casca de laranja, o sangue das pitahayas goteava entre
las nubes, a veces coloreadas de rojo y a veces rubias como el pelo del maíz o el cuero de
as nuvens, as vezes coloridas de vermelho e as vezes douradas como a pele do milho e o
los pumas. En lo alto del templo, un vigilante vio pasar una nube a ras del lago, casi
pelo dos pumas. No alto do templo, um vigilante viu passar uma nuvem beirando o lago,
besando el agua, y posarse a los pies del volcán. La nube se detuvo, y tan pronto como el
quase beijando a água, e posar aos pés do vulcão. A nuvem se deteve, e tão pronto, como o
sacerdote la vio cerrar los ojos, sin recogerse el manto, que arrastraba a lo largo de las
sacerdote a viu fechar os olhos, sem recolher o manto, que arrastava ao largo das
escaleras, bajó al templo gritando que la guerra había concluido. Dejaba caer los brazos,
escadas, chegou ao templo gritando que a guerra havia acabado. Deixava cair os braços,
como un pájaro las alas, al escapar el grito de sus labios, alzándolos de nuevo a cada grito.
Como um pássaro às asas, ao escapar o grito de seus lábios, batendoa-as de novo a
En el atrio, hacia Poniente, el sol puso en sus barbas, como en las piedras de la ciudad, un
Cada grito. No átrio, em direção ao poente, o sol se pôs em suas barbas, como nas pedras
poco de algo que moría. "
da cidade, um pouco de algo que morria.

Miguel Ángel Astúrias, escritor guatemalteco em "Lendas da Guatemala"

Um livro para gerar um outro Olhar



Em diversas situações e vezes, o olhar dos criadores sobre as realidades onde estão inseridos ou dela, de alguma forma foram, foram forçados ou escolheram sair, é um olhar determinantemente mais revelador do que a seqüência de imagens e "narrações" que são colocadas diante de nós diariamente. Os criadores, claro, são os artistas e intelctuais que puderam observar, vivenciar e pensar suas vidas, profundamente alteradas pelos fatos ao redor.
Em geral, é ainda mais interessante quando tais observações são feitas por crianças, ou sob a ótica delas. É o que torna muito interessante o livro do afegão, residente nos Estados Unidos, Khaled Hosseini, com o seu primeiro livro, "O Caçador de Pipas". Há muito que eu não lia um livro, de um escritor contemporâneo, tão interessante. A infância de Amir e Hassan, que se passa num Afeganistão pouco conhecido e lembrado (já que o ocidente não lembra de nada além terras áridas e o regime implacável dos talibãs) estimula um outro olhar sobre o país, comove com sua leitura infantil sobre lugares, culinária, lazer e brincadeiras, se destacando é claro, o campeonato de pipas como sendo a diversão mais esperada do ano.
A fidelidade e a coragem de Hassan, que contrasta com os conflitos e a timidez de Amir, ensinam muito de relacionamento, de ceder ou viver em função de alguém. Uma fidelidade que não teme nem a morte, quando toda conjuntura do Afeganistão é profundamente e barbaramente alterada pela tomada de poder dos talibãs.
Cnotraditoriamente, Amir nunca conseguiu se comportar a altura, e mesmo quando esteve diante da oportunidade de se redimir, o conflito, o medo e atimidez foram maiores, se agigantaram de tal forma, que tornou-se incapaz de corresponder. este mundo de amizade entre o Amir, rico e letrado, cheio de imaginação, e o Hassan, pobre, inocente, mas valente e de dignidade supra, ensina de tudo um pouco.
Aprendi muito com a leitura deste livro impressionante, recomendo da mesma forma, como uma maneira de enxergar oriente médio além do "barril de pólvoras", do povo "pobre coitado" que precisa de conversão. Porque é evidente que ele precisa de conversão como qualquer outro.
Ronilso Pachco

Um olhar sobre a América... e sobre Deus


Recentemente, li um artigo brilhante, um dos mais brilhantes que já li, intitulado "Por Onde Deus Caminha na América Latina?", escrito pela teóloga Ivone Gebara, para o site da Adital. Fui marcado pelo conteúdo do texto, pelo tamanho e a profundidade do alcance de sua reflexão. Em parte porque talvez nunca tivesse pensado, ou ousado pensar em Deus, sobre essa perspectiva, olhando para o meu continente. Por um lado, sou amante incondicional da América Latina, do seu cinema, sua literatura, sua arte, e, principalmente de sua música, de sua riqueza, por outro, sou, ou ao menos me considero, engajado no desafio de somar forças no desafio de comunicar a visão de Deus para mundo, para minha geração, e por que não, para o meu continente.A pergunta de Gebara me toca, porque também gostaria de saber, por onde Deus aqui anda, mas não evidenemente questionando que Ele nos tivesse abandonado, mas corroborando a curiosidade de para onde foi, ou é, que nós, que a América Latina o relegou. É questão de saber qual é, onde se encontra, o caminho do caminhante.Não enxergo com tanta simplicidade as dissertações sobre mundo pós-moderno, pós-tudo, multiculturalismo, e outras nomenclaturas tão atraentes quanto claras. E acho que não o faço porque a perspectiva latina não me permite com tanta facilidade. Minha geração habita um mundo complexo, minha geração é maioria na América latina e Caribe e... acreditem, nossa contemporaneidade não apresenta tanta simetria com o planeta além do Atlântico-Pacífico.O artigo da senhora Gebara fala de um Deus que no mínimo se expressa em diversidade de rostos simples... eu acrescento sobre Deus se expressando na riqueza de linguagens diversas do povoado diverso, que compõe nossa terra do México a Terra do Fogo. No mundo inteiro... há uma geração que no fim... pergunta por Deus de alguma forma. Na América Latina ele caminha, mesmo quando não é observado, porque quando isso acontece, passa a ser o desafio de seus "acompanhantes" indicar como alcançá-lo, e a melhor forma de ser alcançado por ele, em estado de liberdade.
ronilso pacheco