sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007

Mantendo a liberdade aprisionadora


“A liberdade de mercado não inclui a liberdade de não consumir, ou se retirar da situação criada pelo mercado”
Fredric
jameson
Quando li esta frase pela primeira vez, automaticamente me lembrei de um versículo de 2Pedro, 2:19, que diz "de quem alguém é vencido, do tal também se faz servo". Todos os dias, a humanidade parece travar uma batalha inclemente. Olhamos a nossa volta, e tudo nos remete ao consumo, tudo "é melhor", tudo "é necessário", tudo deve ser adquirido, tudo "vai mudar a sua vida, torná-la mais prática e simples". Nós tivemos de reaprender muito sobre liberdade, pois o decorrer do tempo, as rupturas causadas pelas mais diversas fatalidades na história da humanidade nos forçou, a todo momento, repensa-la, ampliar os conceitos que a identificavam.
Neste momento nos achamos livres. A sociedade ocidental aprendeu que a liberdade é parte vital de sua expressão, que é seu grande "legado" para todo o planeta. Toda vez que a liberdade for ameaçada em qualquer lugar do mundo, gritaríamos em seu favor, e mais ainda, quando no próprio ocidente ela fosse desafiada ou ignorada, imediatamente reagiríamos.
Mas o mercado criou um mundo a parte, um mundo onde a liberdade teve de ser reformulada, novamente conceitualizada, onde ela se aplica naqueles que a aplicam para fazer o que o mercado entende como "salutar". É assim.
Travamos uma batalha diária, as vezes sutil, as vezes desesperadas, pelo exercício de nossa liberdade de permanecer no "jogo". E nossa situação se agrava quando usamos Deus para "nos manter no jogo". Não queremos "tudo", mas queremos sempre "alguma coisa". Deus se torna fiador de nossa liberdade, essa liberdade aprisionadora, das conquistas infindáveis, das metas cruciais, dos alvos importantes, dos resultados frutos dos investimentos que foram feitos, dos sonhos que se perdem no horizonte, este horizonte cruel que nunca se aproxima totalmente, sempre distante. O homem aprendeu a viver em função do "por vir", sejam objetos, sejam realizações, bens materiais ou não.
A liberdade é isso. A deturpação da liberdade alcançada na Cruz é isso. Se deixarmos sermos vencidos, é isso que se tornará, do tal seremos servos. Se não repensarmos o nosso relacionamento com a nossa liberdade, se não a alcançarmos e enxergarmos além desta liberdade aprisionadora que foi propositalmente formulada, não passaremos de seu escravo. E, em tempo, é um perigo quando a liberdade se torna um senhor, a frente daquele que verdadeiramente é Senhor.
Ronilso Pacheco

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