quinta-feira, 3 de maio de 2007

FALSOS HERÓIS (2)

Entre Deus e os "Apanhadores de Sonhos"


Imagino que seja uma agressão para qualquer criança, ter de aceitar que os heróis são irreais, que eles não nos acompanham na vida, quando esta abandona a fase infantil e avança para a adulta, passando pela adolescência e a juventude. É complexo demais para uma criança entender que vamos envelhecer sem eles, mas é evidente que vamos.

A imagem do herói as vezes é mais forte do que a convicção adulta de que eles simplesmente...passam. E por isso, talvez, ele seja tão naturalmente substituído, “reconstruído” para a linguagem adulta, do homem e seu “salvador”, o libertador da aldeia global, digo, da arena global, dos nossos dias sofridos, das nossas injustiças diárias, das nossas guerras iminentes, dos nossos desafios agigantados, e tudo o mais. Então eles são devidamente encarnados, e as imagens de heróis devidamente projetadas. Heróis que são incapazes de voar, a menos que sejam na força super sônica de seus grandes aviões, intangíveis; que não podem lançar um único raio sequer, mas podem destruir uma cidade com o seu poder de decisão, a sua ordem expressa de que “o inimigo deve ser dizimado” e se entenderem que um governo ou um povo é uma ameaça; que não possuem nenhuma palavra mágica, de encantamento, mas tem as palavras certas para realizarem suas estratégias de “intervenção”, como Restore Democracy, Operação Ajax, Guerra ao Terror, Novo Socialismo, Allied Force, El Dorado Canyon ou Operação Condor; que definitivamente não possuem super força, mas são, indiscutivelmente os homens e mulheres mais poderosos do planeta.

E assim é que, os heróis, estes heróis, permanecem sendo o refúgio de nossas expectativas e esperanças, todas as esperanças dos sonhos que temos, de sobrevivermos todos os dias, sem sabermos por quanto tempo esta terra ainda vai durar. Porque nada mais assustador do que quando heróis lutam entre si, entram em confronto, e os “simples mortais” só podem assistir, e se protegerem da maneira que for possível. Você nunca ficou pensando o que acontecia com a cidade e com as pessoas que acabavam morrendo ou feridas nas batalhas entre heróis e vilões super poderosos? O que acontecia depois que os prédios explodiam, caíam em ruínas, os carros viravam, as pontes rompiam e crateras eram abertas no chão? Provavelmente não, porque o importante ali era o confronto. Mas no nosso mundo real (este mesmo, das nossas injustiças diárias, das nossas guerras iminentes, dos nossos desafios agigantados e tudo o mais), isso faz toda a diferença. Quando nossos “heróis” dialogam, ficamos tensos, o mundo em expectativa. Quando se confrontam, contamos as vítimas, os “simples mortais” que não tiveram escolha, a não ser sofrerem as conseqüências de uma disputa de poder, entre os poderosos. E é assim que eles são os ícones de um estranho messianismo secular. O mundo inteiro, a espera do herói “libertador”.

Como crer num mundo em que falsos heróis conseguem ter um apelo mais forte do que a possibilidade de se voltar para Deus? Em que o “messianismo secular” é mais assimilado do que necessidade de esperar em Deus? E em que Ele, Deus, é acusado de ser mais fantástico, ausente e irreal?

Acho que as respostas partiram junto com a nossa fé.
Ronilso Pacheco... frágil, cristão e desencantado

2 comentários:

Deivid Junio disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Deivid Junio disse...

Parte da letra do Janires de que tinha falado antes...
HOJE SOU FELIZ - Quando criança sonhei ser Flash-Gordon, Super-Homem, Robin Wood ou até um rei dos contos de fadas. Quis ser ídolo num grupo de rock ou mocinho num filme de cowboy. Como doeu. Ensinaram-me a sonhar, mas desertaram quando um dia acordei. E descobri que moro num país da América do Sul cheio de super-homens voando e bebendo de boteco em botecos, que os ídolos seduzem as meninas e os mocinhos, bandidos se matando nas esquinas. Ah como dói saber que não é sonho de criança o que vai pelo país.

O Janires figura os heróis de uma forma diferente dessa que vc colocou. Mas o que há de semelhança entre eles é a vida real. E parece que nosso sonho de criança teima em morrer, pois boa parte de nós espera, de braços cruzados, soluções heróicas em personalidades extremamente falíveis. Quem são os "heróis" de carne e osso, das pessoas de carne e osso, ou só osso? O grande político, empresário, traficante, guerrilheiro, pastor, papa, os usineiros, os ministros, o guru, o big brother, o que bebe todas, o gay....??? Cada um responda para si.