segunda-feira, 21 de maio de 2007

FALSOS HERÓIS (3)

Deus ou os morcegos da caixa de Pandora


Para que ninguém se perca, esclareço rapidamente sobre a lenda de Pandora, da mitologia grega. Uma forma de Zeus impedir que o homem fosse como os deuses, porque Prometeu, havia traído o olimpo, dando ao homem a capacidade de conhecer o fogo, o grande artefato que separava os Deuses dos homens, em conhecimento. Pandora vem a terra para trazer uma armadilha de Zeus, trás uma caixa contendo todas as desgraças possíveis. Pandora encanta Epimeteu, irmão de Prometeu, que recebe a caixa como sendo um presente. Todas aquelas desgraças saltam da caixa. No entanto, havia ali algo que poderia reverter todo aquele quadro, mas Zeus ordena que Pandora feche a caixa, ela o faz rapidamente, sem saber que a única coisa que restou na caixa, foi a solução de grande parte daquelas mazelas, a Esperança.

É talvez a última coisa que tenho a dizer sobre os Heróis, verdadeiros ou falsos, seja lá como cada um pode crer. Porque ninguém é capaz de canalizar, centralizar, representar tanto as esperanças, do que os Heróis. Porque eles sempre aparecem no momento certo, em qualquer lugar, sobre quaisquer circunstâncias. São sempre geniais, salvadores, redentores. Mas o que fazer quando os Heróis são desconstruídos pela força da realidade vigente, quando se tornam, enfim, incapazes de corresponder as esperanças? Mais do que isso, o que fazer quando a esperança parece ter partido, e, se a caixa de Pandora estivesse entre nós, não mais acharíamos o precioso artefato, mas sombras e morcegos que sobrevoam sobre nós, desafiam nossas atitudes, nossa capacidade de reação, nossa disposição de se expor?

Alguém diz no ditado popular que a “esperança é a última que morre”. O que para mim é muito difícil de entender, porque se a esperança é a última a morrer, é apenas uma questão de tempo, porque, ainda que seja a última, ela morrerá. Então ela morre ou não morre? Heróis inspiram esperanças, mas o que fazer quando os heróis finalmente deixam de existir? Sim, “finalmente”, porque enquanto eles permanecem colorindo a nossa cabeça, a gente parece que não cresce para trilhar nossos próprios caminhos mediante a nossa capacidade real. Acho que Heróis são uma praga, e acho que nós não precisamos deles, porque eles não servem para nada além desse mundo seguro da infância. Eles não tem nada a dizer para as dificuldades e desafios do nosso mundo desencantado.

No fundo, os Heróis são tão frágeis como quanto nossa imaginação, eles não respondem nada. Eles ocupam as nossas aspirações, mas eles não podem ser como Deus. Eles canalizam as nossas esperanças, mas eles não são como Deus. Eles desenvolvem grandes poderes (os reais e os imaginários), mas eles não são como Deus. Então eu tenho a impressão que tudo que nos resta, como desde o princípio tem sido, é entender que este mundo desencantado está, dos heróis, das fábulas e dos contos maravilhosos, os morcegos invadiram a caixa de Pandora, mas a esperança está, ainda, refugiada em Deus. E acho até que ela, a esperança, não pode mesmo morrer, a menos que conseguissem matar Aquele que a mantém viva. Heróis são uma praga.

Ronilso Pacheco... enfim...

quinta-feira, 3 de maio de 2007

FALSOS HERÓIS (2)

Entre Deus e os "Apanhadores de Sonhos"


Imagino que seja uma agressão para qualquer criança, ter de aceitar que os heróis são irreais, que eles não nos acompanham na vida, quando esta abandona a fase infantil e avança para a adulta, passando pela adolescência e a juventude. É complexo demais para uma criança entender que vamos envelhecer sem eles, mas é evidente que vamos.

A imagem do herói as vezes é mais forte do que a convicção adulta de que eles simplesmente...passam. E por isso, talvez, ele seja tão naturalmente substituído, “reconstruído” para a linguagem adulta, do homem e seu “salvador”, o libertador da aldeia global, digo, da arena global, dos nossos dias sofridos, das nossas injustiças diárias, das nossas guerras iminentes, dos nossos desafios agigantados, e tudo o mais. Então eles são devidamente encarnados, e as imagens de heróis devidamente projetadas. Heróis que são incapazes de voar, a menos que sejam na força super sônica de seus grandes aviões, intangíveis; que não podem lançar um único raio sequer, mas podem destruir uma cidade com o seu poder de decisão, a sua ordem expressa de que “o inimigo deve ser dizimado” e se entenderem que um governo ou um povo é uma ameaça; que não possuem nenhuma palavra mágica, de encantamento, mas tem as palavras certas para realizarem suas estratégias de “intervenção”, como Restore Democracy, Operação Ajax, Guerra ao Terror, Novo Socialismo, Allied Force, El Dorado Canyon ou Operação Condor; que definitivamente não possuem super força, mas são, indiscutivelmente os homens e mulheres mais poderosos do planeta.

E assim é que, os heróis, estes heróis, permanecem sendo o refúgio de nossas expectativas e esperanças, todas as esperanças dos sonhos que temos, de sobrevivermos todos os dias, sem sabermos por quanto tempo esta terra ainda vai durar. Porque nada mais assustador do que quando heróis lutam entre si, entram em confronto, e os “simples mortais” só podem assistir, e se protegerem da maneira que for possível. Você nunca ficou pensando o que acontecia com a cidade e com as pessoas que acabavam morrendo ou feridas nas batalhas entre heróis e vilões super poderosos? O que acontecia depois que os prédios explodiam, caíam em ruínas, os carros viravam, as pontes rompiam e crateras eram abertas no chão? Provavelmente não, porque o importante ali era o confronto. Mas no nosso mundo real (este mesmo, das nossas injustiças diárias, das nossas guerras iminentes, dos nossos desafios agigantados e tudo o mais), isso faz toda a diferença. Quando nossos “heróis” dialogam, ficamos tensos, o mundo em expectativa. Quando se confrontam, contamos as vítimas, os “simples mortais” que não tiveram escolha, a não ser sofrerem as conseqüências de uma disputa de poder, entre os poderosos. E é assim que eles são os ícones de um estranho messianismo secular. O mundo inteiro, a espera do herói “libertador”.

Como crer num mundo em que falsos heróis conseguem ter um apelo mais forte do que a possibilidade de se voltar para Deus? Em que o “messianismo secular” é mais assimilado do que necessidade de esperar em Deus? E em que Ele, Deus, é acusado de ser mais fantástico, ausente e irreal?

Acho que as respostas partiram junto com a nossa fé.
Ronilso Pacheco... frágil, cristão e desencantado