A quem recorreríamos se Deus simplesmente nos deixasse?
Esta é uma pergunta tão difícil de formular quanto de de responder. Primeiro porque a proposta que a pergunta faz, ao exigir uma resposta, é absurda. Se Deus é o limite, é o tudo e o todo, se é mesmo por onde todas as coisas vieram a existir, subsistem ou vão acabar, não é muito relevante pensar em quem poderíamos recorrer, porque se ele realmente partisse, nada restaria para se recorrer, a não ser, é claro, uns aos outros, enquanto desse. Segundo, porque minha consciência cristã quase trava toda a minha capacidade de raciocínio, ao pensar na possibilidade de "Deus partir". Deus parte pra onde? Se partisse, onde é que Ele ficaria? Então, pensar na resposta pode ser um desafio menor do que chegar ao ponto de formular esta pergunta.
Também há uma outra questão relevante. Muitas pessoas acreditam que Deus já as deixou. Ele não está mais presente, se é que em algum momento realmente esteve. Nunca recorreram a Deus, segundo elas, porque ele nunca foi "real". Então, não podem pensar na possibilidade de viverem um dia sem a "intervenção" de Deus em alguma situação, simplesmente porque ele nunca esteve, o mundo sempre sguiu sozinho, os homens no comando, ditando as regras, fazendo o jogo, decidindo quem joga e como se deve jogar, incluindo e excluindo quem quiser, enfim, o mundo é o mundo e tudo e todos que ele envolve. Portanto, esta pergunta soa até ridícula, "o que nos restaria?".
Mas contudo, vale a pena o desafio desta especulação. A imaginação da humanidade é recheada de super heróis, eles são o nosso grande subterfúgio, a nossa tergiversação coletiva. Muitas vezes nos acompanham desde a infância, e ainda algumas vezes canalizam as expectativas de um mundo mais seguro. Pois bem, se Deus nos deixasse, super heróis poderiam nos "socorrer". Eles poderiam estar presentes, todos os dias, podiam fazer parte do nosso cotidiano, voando pra lá e pra cá, escalando paredes, saltando de um prédio para o outro, protegendo pessoas inocentes nas guerras urbanas do tráfico, protegendo civis nas guerras militares do oriente médio, salvando vidas nos escombros dos alvos dos ataques terroristas, impedindo mísseis de atingirem escolas, lançando raios nas mãos de um maluco que entrasse armado numa universidade disposto a metralhar todo mundo... os heróis.
Num mundo sem Deus, eles fariam muito sucesso, seriam a grande alternativa, caso chegássemos a conclusão de que não poderíamos fazer nada, seríamos impotentes, como hoje somos, diante das adversidades que se agigantam sobre nós, e nós, com a nossa humanidade, somos absolutamente impotentes. Mas o que dói é que eles não são reais, não se aplicam aqui neste mundo da dura realidade. Então, onde Deus é ausente, faz-se necessários os falsos heróis, diversos, ineficazes, mas aliviadores de consciências temerosas e inseguras num mundo de mar tenebroso. Mas, é bom que se diga, nem os heróis vivem para sempre. Má notícia.
Ronilso Pacheco... cristão, humano e frágil...